Arrastou-se
até a mesa da sala e serviu-se de um pouco de Bourbon. Mãos tremendo,
tomou a dose num gole e encheu o copo novamente. Sentou-se, não se
aguentava de pé. Olhou pela pequena janela de vidros sujos o nublado do
céu e o contorno dos enormes edifícios da cidade. O vidro envelhecido e a
cortina amarelada faziam da luz um tom pastel que iluminava o pequeno
loft suavemente. Melhor assim: a cabeça estourando tinha o alívio
daquelas cores calmas e quentes. A mesma luz fazia brilhar os estilhaços
de vidro sobre o tapete.
- Estou indo embora.
- Vai viajar? Quando volta?
- Nunca.
Olhava fixamente para o indicador do andar do elevador.
Era
um prédio antigo na Rue de la Boule Rouge, ao lado do Alberge du Louis e
do Mimi's, cabaré de categoria duvidosa, daqueles que algumas letras da
placa de entrada estão apagadas e ninguém liga. Talvez essa fosse uma
amarga ironia na vida de Carmem: a um quarteirão de distância, na rua
Richer, estava o glorioso Folies Bergère, onde trabalhou por um tempo.
Era a principal dançarina de tango e participava dos espetáculos do fim
de semana, mas por alguma razão que nunca tomei
total conhecimento, teve de sair. Não sei como acabou procurando por uma
vaga no Mimi's, que não tinha nem um décimo do luxo do Bergère, e seu
público muito menos. A piada que circulava era de que o Mimi's era
famoso entre os serviçais do Bergère. É bem verdade que observei Carmem
saindo algumas noites com homens da alta classe, provavelmente antigos
clientes, mas isso fazia tempo. Aquela jovem mulher passou da glória
para a decadência tão assustadoramente rápido, de forma que eu não sabia
se me intrigava ou se devia me abster de saber como deixou de ser uma
aclamada dançarina do Bergère para assumir os encargos de meretriz,
abandonada naquela ruazinha de Paris.
Algumas
vezes chegou com rosto inchado e braços machucados. Os rumores na porta
do cabaré era de que ela havia se metido em confusões com o pessoal do
antigo emprego. Por mais que eu exigisse por explicações para que
tomasse as providências necessárias com os vândalos que ousaram
agredí-la, ela nada me explicava, me vencia pelo cansaço - ou eu que não
teria coragem de realmente saber das mazelas que envolviam sua vida - e
dormia como um anjo em minha cama, como se lá estivesse protegida de
toda a maldade com a qual lidava constantemente. Tínhamos uma espécie de
amizade, se houvesse como desejar apenas isso com uma mulher como
ela...
- Não ia se despedir?
Não,
não ia. Estava ali, de pé, no corredor de paredes verdes do pequeno
prédio, esperando pelo elevador, que surpreendentemente ainda
funcionava.
- Camille! Olhe pra mim.
Continua.
É que tanto tempo sem postar, e com esse texto parado,cabe mostrar algum resultado. É, também, que ninguém vai ler o conto inteiro quando sair mesmo.
Continua.
É que tanto tempo sem postar, e com esse texto parado,cabe mostrar algum resultado. É, também, que ninguém vai ler o conto inteiro quando sair mesmo.