"Se taire
tu m'en as tant dit, plus rien ne m'étonne
Se faire des serments muets, des promesses aphones
Les mots de trop
il faut se taire"
Não se calava aquela voz do peito que quase já não era mais meu.
Repetidamente clamando meu nome, com ar de graça, mas tão verdadeiramente.
Ah,
quase uma chacota, eu diria, se não fosse meu amor inacabável para
defender a tão desengonçada voz, alegando que ela nada mais - nem de
bom, nem de mau - queria além de proclamar meu nome, niilista e só.
Ah, essa tão aturdiante voz fez-se mais baixa por um tempo breve, ali, na Prudente 780.
Nunca tinha conseguido praticar completamente o desapego até então.
Pois
bem, o apego desejoso, que envenena a mente e então o coração, era algo
do qual não conseguia me livrar por um tempo ínfimo que fosse
suficiente para me orgulhar.
Isso porque eu não imaginava aquela
voz desejando ser feliz; desejando afastar-se do sofrimento no qual
todos estamos mergulhados, mais com o qual ela, em especial, mantinha
perigosa relação.
Era-me inconcebível que aquela voz tão
melancólica pudesse mudar seu tom, espontanea e objetivamente em direção
à felicidade. Não, o dono daqueles lábios pandorísticos de onde
irrompia a voz que me corroía precisava de mim para impedi-lo de
sucumbir ao seu psicológico torto e sombrio. Aqueles olhos de
incomparável poética brilhariam somente enquanto refletissem a luz do
meu espírito, como não?
Há, que utopia absurda! Que pensamento errado, de raízes egoístas e mesquinhas!
E
foi ao perceber essa lógica desmedida, esse sentimentalismo vacilante,
que eu me livrei das grandes amarras que me prendiam à voz do Gato
de Cheshire, pelo menos por enquanto.
A
voz é livre para ser feliz ou triste; é capaz de se autodominar, seja
no cantar das virtudes e loucuras do mundo ou no seu hobbie de me
perturbar.
Diga-se de passagem, as perturbações são todas fruto
da minha mente, tendo a voz em si só chegado até mim pela vontade de
minha mente de projetá-la em ângulos aflitivos.
Com isso, sei o que preciso sobre a voz que está à um celular de distância:
dessa
voz impregnada nos meus sonhos e vazios existe apenas a lembrança. E
por mais viva que eu queira mantê-la, o passado não vive de lembrar de
mim.
E como ensinam algumas tribos indígenas, que não
permitem que suas vozes sejam gravadas, pois suas vozes são seus
espíritos, e seus espíritos devem ser livres, e não enjaulados em
máquinas;
pois bem, deixarei o espírito daquela voz livre, ou melhor, assim minha mente o verá: finalmente, como és.
"Nos langues se fatiguent, ménageons les pour"