Dentro do ônibus, recebendo os primeiros raios da manhã, escuto
repetidamente, como uma carta à humanidade que acorda ou dorme, vive ou
morre:
"Enquanto os homens exercem seus podres poderes, motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
e perdem os verdes. Somos uns boçais...
Queria querer gritar setecentas mil vezes
como são lindos, como são lindos os burgueses e os japoneses, mas tudo é muito mais...
Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será, será, que será? Que será, que será?
Será que esta minha estúpida retórica terá que soar,terá que se ouvir por mais zil anos...
Enquanto os homens exercem seus podres poderes, índios e padres e bichas, negros e mulheres, e adolescentes fazem o carnaval...
Queria querer cantar afinado com eles; silenciar em respeito ao seu transe num êxtase; ser indecente,
mas tudo é muito mau...
Ou então cada paisano e cada capataz, com sua burrice fará jorrar
sangue demais nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos Gerais...
Será que apenas os hermetismos pascoais, e os tons, os mil tons e seus
sons e seus dons geniais nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada
mais...
Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são tantas vezes gestos naturais...
Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo daqueles que velam pela alegria do mundo...
Indo e mais fundo, tins e bens e tais..."
E aí me espanto com minha capacidade de seguir com o dia depois desse ritual.