Tenho amigos que dizem nunca ter amado. Não aquele amor entre
familiares, ou amor fraternal entre amigos, ou mesmo o objetivo maior do
espírito de amar desconhecidos por reconhecer que eles também querem se
ver livres do sofrimento e serem felizes. Digo aqui do amor entre
amantes, daqueles que brotam da paixão que fica morna, que às vezes até
solta faíscas; que nunca cessa o seu calor. Porque amor, até onde eu
pude ver com o meu espírito jovem, não morre nunca. Pode até mudar de
forma, mas é uma das únicas coisas que considero poder ser eterna.
Então, conheço gente que lamenta nunca ter amado na vida. Às vezes
penso que eles têm sorte. Claro, nunca amar na vida, aí não, que isso
seria falta de humanidade - "pesado", mas talvez seja verdade. Agora,
temos a vida inteira pra amar, e cair no azar de começar tão novos como
somos, tão inexperientes e pouco sábios que somos pra lidar com o peso
de amar alguém... Mas penso também que melhor agora, cedo, afinal o
coração jovem é muito mais corajoso, mais ousado, e por natureza arde
muito mais em reação ao mundo que nos é apresentado, do qual sabemos tão
pouco e já nos maravilha e confunde tanto. Melhor agora, que
experimentar e errar é mais normal, mais aceitável - se é que podemos
pensar assim - e talvez menos nocivo (mas só talvez).
Esse vai e
volta de quando se deve começar a amar talvez não termine em conclusão
nenhuma, assim como a maioria das questões que envolvem o amor. Afinal,
quem realmente sabe como ele funciona? Se soubéssemos, tudo seria muito
diferente, não seria? É, de repente é pro bem: se soubéssemos bem,
talvez nem amaríamos ninguém. Se entendessemos a lógica ou a deslógica
dos sentimentos, poderíamos estragá-los e desvirtuá-los como é de praxe
do homem fazer com o que domina. E isso é certo: o amor não é pra ser
dominado, seria contra a sua natureza. Entender o amor é matar o amor.
Um comentário:
Muito bom!
Concordo com vc quando diz:
"Se entendessemos a lógica ou a deslógica dos sentimentos, poderíamos estragá-los e desvirtuá-los como é de praxe do homem fazer com o que domina. E isso é certo: o amor não é pra ser dominado, seria contra a sua natureza. Entender o amor é matar o amor."
O amor é como o mundo para Alberto Caeiro:
"Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo..."
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