Os olhos parecem tão fixos, mas você sabe que treme, ali bem discreto, tentando disfarçar. Você sabe que a pálpebra faz força pra não se entregar. Olhos outros, fixamente iriam olhar. Olhar descarado, sem satisfação pra dar.
Um sorri despretensioso, o outro pretende forçar. Um tem os olhos honestos, o outro, do fundo do mar.
Um faz que pode, que é rei, o outro quer que se foda toda lei.
Um se abre até não ter mais tamanho, o outro engole seu pranto.
São tão fortes e frágeis criaturas, mas bem sabemos, ali não tem nenhum santo.
Tudo e nada que sei. Um, dois, um meio, número torto e gauche que já amei.
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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...
No meio disso tudo, eu escrevo...
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Por trás
Escreve, escreve, escreve, Ninha, como se o mundo - há! - fosse te responder.
O silêncio mais sincero, ecoa e você não sabe porquê.
Você tem tanto a falar, ninguém vai retrucar você.
Se fala que é Ana, o povo assusta. Se fala que ama, mais ainda.
Escreve, escreve, escreve, queima as pontas das mãos, deixa a faísca arder no canto frágil do coração.
Pode chorar Ana, que ninguém vai saber. Pode chorar Ana, ninguém conhece você.
O silêncio mais sincero, ecoa e você não sabe porquê.
Você tem tanto a falar, ninguém vai retrucar você.
Se fala que é Ana, o povo assusta. Se fala que ama, mais ainda.
Escreve, escreve, escreve, queima as pontas das mãos, deixa a faísca arder no canto frágil do coração.
Pode chorar Ana, que ninguém vai saber. Pode chorar Ana, ninguém conhece você.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Casa de espelhos
Do escuro ergue-se uma casa de espelhos de múltiplos reflexos. Várias de mim, vários deles, multiplicando-se caleidoscópicamente. Coloridos e em preto-e-branco, altos e baixos, eles brotam de todos os lados, passam pelas brechas, ocupam o espaço vertiginosamente – rostos demais, papo demais! quantos já são? onde estava? tontos e bobos estamos todos, eu e vocês – e no final, cá estou, estou só eu, são apenas reflexos, reflexos dos eus que deixo escapar e vaguear por aí tão soltos e sonsos. Cansada de virar a vista e o corpo, decaio sobre minha cama e aproveito – meio-dúvida, meio-alívio – a desaparição das imagens; de um escuro para outro, respiro.
Senhores moços rapazes velhos e crianças: apresento a vocês, a minha sina. Que o circo comece. Mais uma vez.
Desejou os braços frios, os braços brancos – saudade do que nunca teve, teve em parte: incompleto, despreparado, fosse de sentimento ou de saber lidar com eles, crianças confusas. Sentiu o hálito fresco, fantasmagórico hálito do passado soprando na nuca, ah, e como os desejou também! – acronológica tragédia, querer transportar-se no tempo para uma realidade não de toda real, talvez mais de pouca, idílica, talvez... Os dedos se contorceram a procura dos outros pra enrolar, e na falta rasgaram os lençóis, perfuraram o colchão em agonia e vontade. Vontades, vontades, tão pueris; desejos tão adolescentes, desejos já tão maduros para se darem ao luxo de serem inconsequentes... Mas o que seriam, se assim não o fossem? Desejos amadurecidos são como senhores em crise de meia-idade, só que menos covardes, mais virtuais. Mais bonitos. Mais perigosos.
Amarga doce reinvenção
Alguém vai e resolve fazer a Noite estrelada em bala de goma. Bom gosto a parte, vocês tem algo em comum, afinal, é isso mesmo, foi assim pra você também: uma brincadeira. Não foi? Pena foi, que você reinventou e abandonou. Belo artista, você é. Sem ironia.
É, em algum momento ía chegar uma amargura maldisposta, uma reclamação pra ecoar confusa, que só se sabe sem lugar.
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