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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

sábado, 8 de abril de 2017

Lamento do Marginal Bem Sucedido - O grande amor e tudo que vem depois.

Valorizem seu primeiro amor.
Especialmente se você for o primeiro amor também. O coração das pessoas é coisa frágil. E o amor tem dessas coisas né, faz parecer forte...Às vezes faz ser forte. Mas as tripas cardíacas se contorcem todas, viram açúcar diante de quem se ama... Não as desgaste de todo, contudo. Elas vão precisar trabalhar muito ainda. Duvida? Então deixa eu te contar uma história.
Ou uma parte dela. A parte toda levaria meses... da minha parte. Da outra parte, quem sabe? Da nossa, talvez uma vida... Que não levamos. Na verdade eu vou contar a história depois da história... A história das histórias, partindo do fim - não do amor, mas da promessa de entrega entre dois primeiros amores.
Eu tive meu primeiro grande amor aos 16 anos. As pessoas me diziam "que bobagem!", "Isso vai passar!", "Você ainda vai encontrar muita gente e vai descobrir o que é amar de verdade". Estavam certos sobre a última coisa: eu conheci muita gente depois do meu primeiro amor. E de fato, descobri o que era amar de verdade...Com 16 anos. Com os anos se passando e a nossa história conturbada se desenhando torta, mas firme (de uma forma meio elástica, vamos pôr assim); depois torta e diluindo-se; e hoje diluída e forte. E torta. E bonita. E triste. E tudo que as boas histórias de amor merecem. Eu conheci muita gente depois, durante ou ainda - como quiser para seguir com esse texto sem entrar num vórtex de gatilhos pessoais - essa história de amor.
Acho que o detalhe mais relevante pra se entender o que quero dizer, é conseguir digerir no âmago quando digo "história". Não vou vender o truque, mas adianto algumas dicas: história faz parte do passado. E do presente. Na faculdade a gente aprende um bocado importante sobre memória, identidade e projeto; passado presente e futuro. Isso tem tudo a ver.
Falo da história de um grande amor, e não de um relacionamento vivido; propriamente, no dia-a-dia, no suor, no contar cronológico e constante do desesperador senhor-de-todas-as-coisas, o tempo.
Bom, vamos voltar ao foco de porquê valorizar esse amor - por mais inteiro ou despedaçado que ele esteja. E ele é dinâmico, tá? Pode mudar em alguns meses, em alguns dias, amanhã ou no fim desse texto. Na verdade tenho percebido que quanto maior a distância(temporal, espacial, emocional o que seja!) mais volátil ele fica. Afinal, como a academia me ensinou bem (algumas boas coisas tinha que ensinar, não é mesmo?), a memória é uma ilha de edição... o que guardamos ou não, valorizamos ou repudiamos; voluntária ou involuntariamente do nosso passado constrói o presente; e esse processo é a base para se projetar um futuro, um plano, um ideal... Estão me acompanhando? É difícil, eu sei. Mas quem já amou sabe do que estou falando, se parar um pouquinho só pra pensar a respeito.
E quanto mais dimensões de distância, mais "se's" aparecem. Ahh o "se", o maior monstro já criado pelo tão valorizado atributo de pensar, assimilar, criticar; enfim, editar nosso software mental-emocional (só o budismo me salva!). E eis a questão de tudo: o "se" não existe. Ele é enorme, pesado, louco, incontrolável...e inexistente como coisa palpável. Ele é como o maldito "narrado exodiegético" do cinema: está em tudo que diz respeito ao tema, e em nada ao mesmo tempo; é o próprio produto invisível; as várias possibilidades cujas escolhas constroem o filme. Opa, a história! Viu como bate? A história dos grandes amores são cheias de se's... E esse instrumento inexistente tem como maior opositor o que de fato transcorre-se: os vários não-se's. Vou voltar a facilitar, que o assunto já não é coisa fácil de ler nem escrever nem sentir: recapitulando - Valorize o seu primeiro amor. Porque dele brotam todos os outros...
É o fim - não do amor, reitero quantas vezes for necessário!Ele não acaba nunca até onde eu pude experimentar; mas o fim enfim da tal promessa que os que amam fazem enquanto há esforços para alimentarem esse amor -; pois bem, esse fim é o mapa natal do que serão suas próximas relações. E mesmo que elas não sejam ainda -ou nunca venham a ser, qual o problema? - amor, elas são profundamente, violentamente, sabiamente, dolorosamente impactadas pela sua primeira experiência com o amor.
E não adianta comparar o que vier depois: é injusto e infrutífero. Nada será como aquilo. O que não quer dizer que não serão bons, ou igualmente importante na sua vida os demais acontecimentos - ainda bem! Mas existem coisas que ouso chutar que só o primeiro amor te ensina, e elas vão incorporar-se à quem você é - você, essa coisa também absolutamente dinâmica, terá uma constante dinâmica (louco isso, né?) que é o infinito impacto do amor em tudo que você se propõe a se envolver verdadeiramente.
Parece catastrófico, mas na verdade é construtivo, sabe? Com o passar do tempo você -bom, pelo menos eu, e creio não estar sozinha nessa como não estamos em quase nada - vai percebendo que o "se" é uma bobagem, que tudo é exatamente como tem que ser. Às vezes é pra reencontrar aquele primeiro amor em um outro momento, em outra construção, outro estado... Às vezes ele já cumpriu sua parte na sua jornada e te entregou - mais ou menos preparado - para outros braços; abraços, línguas, corpos suor pensamento fluxos, enfim, pessoas outras. Se cabe uma observação de página necessária aqui mesmo, reflexo do raciocínio: não renegue o primeiro amor dos outros. Ele vai dizer muito sobre essa pessoa, ele é MUITO importante pra essa outra pessoa, pra quem ela é hoje, pro que ela quer ser, o que ela quer construir, o que ela dá conta de construir no momento...
O amor faz crescer, sempre. Isso não quer dizer que ele te faz bem sempre, muito menos que você vai evoluir para um estado melhor. Mas mais experiente, sim - afinal, é uma baita experiência, não é? O amor faz crescer - aí vem a coisa mais doida, a serpente-que-morde-o-próprio-rabo desse tema inesgotável e inexplicável em exatidão e completude que é o amor: o amor faz florescer mais amor. É, aquele clichê mesmo! É real! Quem diria! Patentear essa pólvora é tolice, então sigamos:.
"Mas Ninha, eu tive um amor tão forte, tão único, tão arrebatador que acho que depois dele não amarei da mesma forma de novo!". É, tem razão. Não vai mesmo. Mas vai amar de formas arrebatadoramente incríveis. Vai, no mínimo, se apaixonar e lidar com essas paixões de forma diferente. É outra fase de experiências... E eu, pelo pouco muito que sei, pelas boas paixões, marcantes paixões, inúmeras paixões que tive desde o meu grande primeiro amor, tenho essa tranquilidade: a dor, vazio ou seja qual for o sentimento que abate em cada um de não continuar uma relação com seu grande ó descoberto primeiro amor não passa despercebida pelo mistério do universo. Tem uma contrapartida que faz girar a roda da vida, a nossa engrenagem interior que é se não tão potente, no mínimo muito e suficientemente funcional: a possibilidade de amar de novo. De se apaixonar de novo. De conhecer outros seres humanos (tô partindo desse princípio, ok) em profundidade, intensidade, com energia renovada ou, pelo menos, resgatada. Bem possível que a primeira fagulha desse motor foi com seu primeiro grande amor? Sim. Talvez com sua mãe.Freud tenta explicar. O que importa (aliás, vai saber o que importa! mas fica a intenção), no final das contas e desse enorme texto, é o alívio do que já se passou e um motivo pra continuar.
Valorizem seu primeiro amor! Mas não pare nele. Não parem de amar por conta dele...Há tanto amor ainda! Há tanto amor ainda... Há tanto amor!Há tanto amor pra viver...