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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

domingo, 24 de outubro de 2010

Anúncio

  Acordou com Sofia sorrindo. Percebeu então que havia dormido com Sofia sorrindo em suas mãos.
  Um retrato em preto e branco um pouco já gasto pelo tempo. Ou pelas diversas viagens da gaveta para as mãos e das mãos para as gavetas. Um arranhão aqui ou ali, uma ou duas lágrimas no caminho. Envergonhadas de caírem, depois arrependidas de molharem Sofia.
  Tomou café com o sorriso de Sofia na cabeça, e logo ela estava lá, nítida, abrindo a porta da antiga casa do bairro das Laranjeiras. Qual era mesmo a rua? Disso não se lembra, no caminho não pensava na rua, pensava no sorriso. Aquelas bochechas não cansam, afinal? Depois de tanto tempo... Teriam mudado?
Claro que mudaram; as pessoas envelhecem! Mas não Sofia... Teria mudado? Ela amava aquela casa,  a varanda branca...
O branco dominou o pensamento e desbotava a imagem de Sofia. Levantou-se da mesa com a imagem das malas se acumulando no porta-malas do Opala branco.

  Almoçou com Sofia parada no jardim, o Opala ligado. O sorriso não estava lá. Teria mudado?
Nesse dia nada mais fez além de procurar o caderninho azul de endereços. Qual era o nome da rua, meu deus... Nesse dia, publicou um anúncio no jornal:
"Procura-se aflitivamente um pobre caderninho azul que tem escrito na capa a palavra 'endereços' e dentro está todo sujo, rabiscado e velho"

  Que ideia estúpida, meu deus! Pra que fez isso, velho? E ainda deixa nome e endereço... O que os vizinhos vão pensar? Caducou de vez... Está perdendo o senso, Mauro?
  Passaram-se dois dias. Dois dias tomando café com o caderno na cabeça e Sofia no coração. Pra que foi resgatá-la de lá dos fundos?

  Toca a campainha.
  - Mauro?
  Não encontrou o caderninho azul. Mas encontrou o que procurava.

  E o sorriso estava lá. Entrou e fechou a porta.


Proposta de redação. Limite de 30 linhas. (P.326, Q.41)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O tempo é como um balão...

Primeiro parece pequeno (vazio)

 depois aumenta tanto que parece que nunca acabará (cheio)

até que se esvazia numa correria estranha sem que se consiga evitar...




Aproveita o teu tempo...

domingo, 17 de outubro de 2010

Vejo ao longe o sorriso dos girassóis que parecem que esperar que os visite. Seus olhos cor de amêndoa doce e alegre transmitem a doçura dos iluminados inquietos, suspensos do mundo inerte e falível…


E o vento sopra palavras de incentivo e de loucura. Eles abanam numa dança de uma coreografia ensaiada e cintilam criando um quadro de perfeita harmonia. Vistos do céu fazem ondas de reciprocidade quase sem noção… de quem as vê, de quem as sente.

E o sonho nasce. Depois de adormecermos num recanto de relva verde, fixados no azul do céu e na espera do desejo paixão de marasmo conquistado nos vultos de pedra e cinza diluída no espaço emergido.

Este é o nosso segredo. Esta é a nossa forma de conseguirmos sobreviver aos dias perdidos na vida que dizem ser a nossa e em que nunca a conseguimos encontrar, para que a possamos projectar nas planícies dos génios e das flores.

O tempo passa. E a noite visita-nos. Já renovados percorremos o caminho inverso e regressamos à normalidade. Aparente. Trazemos o sorriso, emprestado, do girassol amigo no pensamento, trazemos o amarelo brilhante, contagiante, na alma que fomenta o nascer de mais um dia. O Sol irmão desse girassol simbólico também sorri e pisca-nos o olho guardando o segredo partilhado na véspera.


 
Podes chamar-me maluco. Podes pensar que sou incauto. Mas o meu desejo é encontrar esse caminho que me leve, de novo e em segredo, ao majestoso campo de girassóis para que em silêncio ame as cores da natureza e assim encontre a terapia para purificar os sentidos, perdidos, do meu acreditar…

Já sabes. De mãos dadas poderemos partilhar o nosso segredo. Podemos sorrir. E, no momento oportuno podemos fugir, embora que temporariamente, nunca deixaremos as nossas viagens, cúmplices, aos terrenos da noção e as terras da emoção.



Basta que tu o queiras! Espero por ti!

Quero seguir o nosso caminho na busca da nossa identidade…

- Paulo Afonso Ramos
Tudo começou com alguma coisa subindo as paredes do prédio em direção à janela que mudava de cor de acordo com as cores da TV.O homem aranha saltou para dentro, mas decidiu continuar repetidamente saltando. Enquanto isso um baile russo rolava no espaço vazio. Once upon a december... Desse jeito, com as partículas douradas suaves pairando no ar. No canto estávamos nós, e você meio inglês, vestido em fraque azul. Uma caixa com um anel chegou a aparecer, mas dissolveu-se na diagonal.
Abaixo de mim havia um precipício de lava, mas não havia gravidade que me fizesse cair.
Não nessa minha órbita, onde o pensamento voa na velocidade-luz.

sábado, 16 de outubro de 2010

Surpresa. Tão inesperada quanto desejada, surpresa presa na indefinição entre alegria e não alegria. Felicidade desconfiada. Euforia apreensiva. Dúvidas. Muitas dúvidas na contraditória vontade de voltar no tempo e de, ao mesmo tempo em outro tempo, vê-lo distante. Desejo de uma lembrança enevoada por memórias, anteriores ou posteriores, menos dolorosas. Dor. No frio na barriga, quase dor. Uma dor recordada e quase (re) sentida. Ressentida. (Re) ressentida na surpresa feita ilusão. (Des) surpresa sem surpresa. Tristeza quase não triste na dúvida quase certa de ser melhor não ser o que já foi. Se foi e de novo foi o fim.

- Por Roberta Cavalcanti, no Ponto e Vírgula

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sobre os mesmos olhos de ressaca

Foram os olhos. Não exatamente a cor, não exatamente a forma. Foi a combinação da etérea semelhança daqueles olhos que fizeram, por rápidos instantes, interromper e imediatamente acelerar o ritmo do meu corpo. Respiração, circulação, batimentos cardíacos. Talvez tudo isso, talvez nada disso. Emoção. Prazer e tensão de lembrar um olhar. Outros olhos resgatados da memória por aqueles revelados em um breve relance. Um meio movimento de um rosto que fez o meu se voltar para o mar. Sobre a água, uma névoa suave que não me permitia ver, mas não me impedia de enxergar além da baía. Veio de lá a presença recordada que me acompanhou até a chuva no fim do dia. Choveu no fim e isto basta.

Por Roberta Cavalcanti, no Ponto e vírgula

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

E o amarelo dela compuz...

Um metro e sessenta e cinco de sol.

A moça com brinco de pérola que não é de Vermeer.

Não a fera-venenosa Gala;

ou a musa-destruidora Yoko.

Mas a Sweet Angel de Hendrix.

Branquinha, ó branquinha, Caetano.

Amor mico-leão no lençol branco do

domingo de chuva e sol.

Furacão amarelo assim, toda sua e do

mundo e dela e de ninguém.

Um girassól todo, 360, só ela.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Girassóis Amarelos

Foi o que procurei, assim de repente, com vontade de procurar.
E no pensamento instintivo de descobrir se existia blog com tal nome - ah, e se não existisse meu seria agora! - me deparei com o seguinte:

"As coisas que não conseguem ser olvidadas
continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre
onde as datas não datam.
Só no mundo do nunca existem lápides...
Que importa se depois de tudo
tenha "ela" partido, casado, mudado,
sumido, esquecido, enganado,
ou que quer que te haja feito, em suma?
Tiveste uma parte da sua vida que foi só tua
e, esta, ela jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis,
há certos momentos que,ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado.
E abrem-se no teu sorriso mesmo quando,
deslembrado deles, estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto deves à ingrata criatura...
'A thing of beauty is a joy for ever'*
disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer."

- Mário Quintana
 
* E aqui está ele, o grande poeta brasileiro, fazendo referência ao meu indizível amante inglês John Keats!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Old Love



I can feel your body
When I’m lying in bed
There’s too much confusion
Going around through my head

And it makes me so angry
To know that the flame still burns
Why can’t I get over?
When will I ever learn?

Old love, leave me alone
Old love, go on home


I can see your face
But I know that it’s not real
It’s just an illusion
Caused by how I used to feel

And it makes me so angry
To know that the flame will always burn
I’ll never get over
I know now that I’ll never learn

Eric Clapton - Old Love.
Old Love. Old love... Not so never.Old.
Love, but old.
My old love. That it rests in peace.
RIP, my old love.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Síndrome de Grenouille

 Engraçado como só escrevo quando há um quê de perturbação na minha alma. A alegria por essas bandas. Aqui reina a inquietude para acender a fagulha. Mas não é isso apenas que impede o avanço das ideias escritas. Esses buracos em branco são filhos da ausência de palavras, um vazio no dicionário do mundo que não me permite traduzir em letras e vírgulas aquilo que se passa em minha cabeça.
 Aquele mundo azul originado do penacho de ave que não exite. A lava quente subindo os prédios acompanhando a música frenética. As cenas tão bem definidas na mente, no corpo, nos sons e no cheiro. Aquela história semi-medieval da piscina, os planos do passado, as vontades-minuto debaixo do lençol ou as de cara com o vento.
 Não há palavra no mundo que descreva.
Talvez esse seja o tópico principal. O motivo desse blog. O porquê de escrever, ainda que o resultado sea infame, insatisfatório em níveis indizíveis. Indizíveis, porque faltam palavras, mais uma vez.