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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

quinta-feira, 28 de julho de 2011

"Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha sido suficientemente fraco para entrar."
-  Caio Fernando Abreu

Do alívio

  O chão que era de mármore, frio, gelado, agora é areia. Uma areia quase azul, que permite que meus dedos se mexam confortavelmente.
  A dor que parecia não ter fim, agora é ladrilho na parede.
  A insegurança virou pó, que caiu sob as pérolas, enfeitando-as.
  Se nas minhas impressões reinava a mágoa, hoje reina a tranquilidade.
  Como sair de uma coleira de espinhos meio frouxa e sentir no pescoço as fibras de um lençol.
  Foi como acordar depois de um domingo cinza, de um filme muito longo no escuro.
  É quase como ter flores pequenas e de tons amarelos no quintal dos fundos.

domingo, 3 de julho de 2011

"Nunca confunda movimento com ação." Os tais manifestantes deveriam absorver as palavras de Hemingway.
 Tudo bem que haver mobilização já é um começo, lembrando que estamos em um período de grande passividade cívica. Mas o que eu vejo em protestos como a tal "Marcha pela liberdade" é um conjunto de apelos de visibilidade, pessoas que, desesperadas para se mostrarem diferentes das demais, resolvem levantar cartazes e teatralmente se lançarem às ruas com frases que não carregam nenhum ideal efetivo.
  Alguns hão de reclamar que eu nada posso dizer, pois não estou "engajada em nenhuma causa, como eles". Mas é preferível pessoas que de fato carreguem dentro de si determinados questionamentos e vontade de mudança do que aquelas que superficialmente afirmam ser ativistas apenas para se destacarem, sem, no entanto, buscarem propostas para as realidades sociais e políticas.

  Postar fotos no facebook caminhando com tinta no rosto e um cartaz não faz de você melhor ou mais interessante, quando a sua ação não passa desse objetivo, dessa necessidade por chamar atenção e mudar a sua rotina empobrecida.
  Desculpem os mais sensíveis à críticas, mas deixem manifestações para aqueles que exprimem reais sentimentos de luta, compaixão ou as capacidades necessárias à promoção da mudança.

Minha Maria Elena ficou inquieta de repente.

  Woody Allen planejava me pertubar com Vicky Cristina Barcelona. Quer dizer, elas voltam para suas casas, se acomodam a uma realidade insatisfeita, e quem fica para os créditos se sente na obrigação, na possibilidade de fazer diferente.
  E aquela Maria Elena é tanto de mim. Tanto do que eu queria expressar. Sem as reações tão dramáticas e tentativas de suicídio, no entanto. Mas os demais ímpetos, o comportamento selvagem e livre, todo essa espaço que ela conquista com a sua honestidade de ser.
Talvez seja o clima de Barcelona, esse lado mais verde-e-madeira do que empoeirado da Europa.
As guitarras espanholas, meu deus, como elas tem mesmo o poder de transportar.

  Por outro lado não me interessam os amores conturbados em um saldo negativo de angústia. A intensidade, a leveza com que se vive sem padrões, sem expectativas ou proibições, aí sim.
A beleza inigualável de Penélope Cruz parece ter sido feita sob medida para tirar do eixo as minhas excitações.

É bem verdade que comigo, no meu mundo, eu vivo quase assim. Falta a elegância do cigarro, que na prática representa um pulmão escuro. E falta a convivência com pessoas como aquelas, dos filmes de Woody Allen. Talvez esse seja o problema: não me falta coragem para viver da maneira como me é de natureza, falta-me é o espaço para ser, o ambiente propício para que eu me esparrame como Maria Elena.