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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

quinta-feira, 27 de março de 2014

Entreconto

Moanin' low, my sweet man is gonna go,
When he goes, Oh Lordy
He's the kind of man needs a kind of woman like me


Deitada na cadeira retrátil da varanda ela vê o dia nascer com o cigarro de palha nas mãos, cabeça nas nuvens...
No prédio ao lado a janela dele, só uma meia fresta aberta
Foi tanto tempo...
Estaria ele nas cobertas, ou nu com outro corpo jogado
O cigarro descambando dos dedos
O cinza-vindo-o-sol acalenta a varanda branca
E ela, branda, cerra os olhos como a fresta
De último, um vulto corpo pela fresta...
 
Ele semi-cerrando os olhos ainda não acordado de todo escuta o som dos blues
Seria ela? Sem dúvida, aquele som é inconfundível, ainda que não seja o som da sua voz, é o som da sua alma, sorrateiro pelo ar
Abre a janela e é inundado
Raios do sol, o corpo dela deitado na varanda
Tudo branco
Foram tantos dias...
Meia titubeando, o som o guia pelo caminho até a porta
Pés na rua, coração na mão quente o corpo frio
Esquenta, a sete janelas de distância está sua grande falta de ar
Como se pudesse entrar, a vê deitada, cobertor contra o frio seria
Se pudesse entrar

Ela abre os olhos assustada com o dia que já chegou
com a janela vizinha aberta
venta
Sem coragem de se levantar, continua ali, atenta em apenas respirar

Ele transpira, e são só seis da manhã
Dois passos, mãos na cabeça
tudo confuso de lá e de cá
Amanhece mais um dia
Ela aqui, e ele lá.



domingo, 16 de março de 2014

Rituais e lembranças de passagens

Ouvir essa versão de La vie en rose nesse momento pode ter sido tudo que eu precisava.
É como se eu fosse guardar esse momento pra sempre
E sempre que eu precisar recapitula-lo ele estará aqui, com o vento e a água corrente e o cheiro de incenso
E pode ser que eu não vá exatamente lembrar de exatamente tudo,
a água vai parar de correr e o cheiro do incenso pode acabar
Mas aqui, isso sempre estará comigo, como uma parte do que me fez chegar
até aqui.

Pro novo chegar

Uma inquietação me pega
constantemente
Renitente, insistente, ininterruptamente
chata, me tirando do sério, me tirando qualquer paz que eu pudesse ter
e já nem sei se tinha mais, chego a pensar
Uma inquietação tem me pegado
é o amor
querendo se libertar
ir pra não mais voltar
Você, que eu seguro até hoje com cordas bambas e gastas
precisa voar pra longe
Dessa inquietação que tem apertado meu estômago
eu acabei de dar a descarga
No canto, a pia pinga
e eu, que não acho isso bonito nem poético mais
eu que não vejo mais esperança no pingar
fecho com tudo o registro, resolvi parar
com esse agonia sem frutos
com essa latência que atrasa
agora é seguir em frente
renitentemente prosseguir
insistentemente, viver
apaixonadamente
por algo além de você.