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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Canção.

ah se pudéssemos acreditar
que estamos pra acertar as contas
do passado e do futuro
que nos prende num presente tão ausente
é que tudo isso já está pra lá de Bagdá, além de mim
ah se fossemos felizes só mais um instante
sem nos preocuparmos
e acreditarmos
que isso tudo durará pra sempre
mas tudo já é ruína
ponta do abismo, beirada de mim
e eu que já nem sinto tanto assim...
tomo meu café, meu guaraná
me sento aqui...
vejo a parede que você pintou
toda aquela tinta que já ressecou...
não amor, não há tempo pra pagar de sofredor clichê
não há mais tempo pra roer
e se eu sinto a falta de você...
tomo meu café, pego meu patuá
me aqueço assim
e um pedido de sorte
pra esse trago amargo evaporar


O espanhol que ainda não sei falar

Me pergunto porque ainda não escrevi sobre você. Claro que a resposta mais rápida é: não tenho escrito nada, às vezes por falta de inspiração, às vezes tempo, às vezes (o que era muito frequente e agora nem tanto) pela intensidade do que vivo não conseguir se reduzir em palavras.
Mas sei que não é o caso. Há ainda um elemento oculto no porquê de não escrever sobre você. Talvez, e isso é apenas uma hipótese criado nesse momento de escrita, seja pela beleza que vejo em não definir o que somos ainda. Pela novidade que a nossa relação representa nas nossas vidas, e pelo otimismo que rege essa novidade no sentido de esperar as coisas mais bonitas que, caso não sejam de fato tão bonitas (mas meu lado otimista e poeta duvida!) serão, no mínimo, um deixar-se cair no misterioso, e é esse sagrado do misterioso que não quero quebrar com teses escritas a respeito de você.
Você, pra mim, ainda é um livro em branco sobre o qual só tenho o projeto se delineando nas minhas impressões e na minha memória ainda recente. E aqui então fica minha homenagem silenciosa do que poderá ser as próximas linhas sobre o que compartilharmos das nossas vidas:


























O branco que cuido com carinho para o que ainda será escrito. Te espero.

Da malícia, do jogo e da quebra da inocência

Penso, talvez pela minha desconfiança escorpiana em relação as intenções alheias, talvez por estar jogando e só no reflexo do outro perceber que empunho de lado minhas armas - mas penso por um instante que ela pode estar se abrindo justamente para antecipar minha jogada, paga garantir que eu perceba minhas limitações de movimento.
O respeito que cultivo por ela supera meu desejo nele, e enquanto majoritariamente penso que é uma empatia genuína e que minha resignação tem um quê de nobre, de belo, de raro; me aterroriza a possibilidade de ser na verdade uma armadilha, um blefe malicioso no qual eu caio e cuja arquitetora me faz inclinar sem relutar.
Me assusta a ideia de que eu esteja, ao mesmo tempo, transformando aquela que é o obstáculo que me impede de consumar minha obsessão na própria obsessão, trocando uma por outra. Para não admitir minha incapacidade de transpô-la passa chegar a ele, transformo-a na ponte arriscada e encantadora que me conecta à ele.

domingo, 20 de abril de 2014

O sabor da fruta

Pela primeira vez bateu o medo.
Lembrar que apaixonar é sofrer. Não majoritariamente sofrer, na verdade majoritariamente viver pelo que vale a pena, mas de vez em quando - e o problema é esse de vez em quando, mesquinho né? - sofrer, e sentir apertar o peito e arrepender de ter começado a se apaixonar. Porque nessa hora a gente lembra dos momentos ruins que doem como faca, dos traumas - suas cicatrizes -, e pensa: como em são juízo me disponho a ficar assim de novo?
Se dispõe, querida - diz seu pobre irrecuperável coração forte de fraco - porque lembra do cheiro do cabelo, do pêlo da nuca arrepiada, da pele clara iluminada pelo sol, do corpo aconchegado na sua coberta e de repente o medo - que não é bobo e se coloca estrategicamente - permite que a tentação que nos faz ir de encontro com ele se estabeleça, aquele "ah, vale a pena!" traiçoeiro e certeiro.
Traiçoeiro, deixa esquecer a não aceitação da família (como serão os próximos natais?) afinal, apesar de tudo vale a pena pela presença dela fumando no jardim daquele lugar frio...
Traiçoeiro, deixa esquecer que todos param pra olhar e reagem às vezes cômica, às vezes amargamente (quão excêntrico são duas - ou mesmo mais - pessoas se gostarem?). Mas vale a pena pela dança à duas desequilibrando taças de vinho barato na sala.
Traiçoeiro, deixa esquecer a energia que é gasta ao pensar nela e não naquela tarefa importante (será que ela está pensando também?). Mas vale a pena quando o celular vibra com a mensagem dela e de repente você não precisa mais pensar sozinha, vale quase perder o vôo pra transar mais e ter ela esperando com você o ônibus de conexão chegar e você ter aquele alguém de touca e cabelos escuros pra despedir e dizer "me conta se conseguir chegar a tempo", talvez (a gente gosta de pensar, né) desejando que talvez nem consiga e tenha que voltar.
E nesses vários "vale a pena" começa realmente a valer muito, e por valer de algo, vem o medo: de não ser correspondida, da impressão do início ser enganosa (vou me estrepar? Vamos nos estrepar juntas?), de que não saibamos andar no mesmo ritmo, de que ela não tolere meu jeito, de que eu não tolere seus hábitos, de que enfim, acabe tragicamente.
Mas ah, se assim for, que eu coloque Piaf pra cantar minha melancolia e ainda tenha a paz de saber que por algum tempo, qualquer que seja, valeu a pena só por ter sido, inúmeras vezes, público privê e palco daquele sorriso. E o medo fica pra depois. Por agora, me deixo cair em seus braços.


quinta-feira, 27 de março de 2014

Entreconto

Moanin' low, my sweet man is gonna go,
When he goes, Oh Lordy
He's the kind of man needs a kind of woman like me


Deitada na cadeira retrátil da varanda ela vê o dia nascer com o cigarro de palha nas mãos, cabeça nas nuvens...
No prédio ao lado a janela dele, só uma meia fresta aberta
Foi tanto tempo...
Estaria ele nas cobertas, ou nu com outro corpo jogado
O cigarro descambando dos dedos
O cinza-vindo-o-sol acalenta a varanda branca
E ela, branda, cerra os olhos como a fresta
De último, um vulto corpo pela fresta...
 
Ele semi-cerrando os olhos ainda não acordado de todo escuta o som dos blues
Seria ela? Sem dúvida, aquele som é inconfundível, ainda que não seja o som da sua voz, é o som da sua alma, sorrateiro pelo ar
Abre a janela e é inundado
Raios do sol, o corpo dela deitado na varanda
Tudo branco
Foram tantos dias...
Meia titubeando, o som o guia pelo caminho até a porta
Pés na rua, coração na mão quente o corpo frio
Esquenta, a sete janelas de distância está sua grande falta de ar
Como se pudesse entrar, a vê deitada, cobertor contra o frio seria
Se pudesse entrar

Ela abre os olhos assustada com o dia que já chegou
com a janela vizinha aberta
venta
Sem coragem de se levantar, continua ali, atenta em apenas respirar

Ele transpira, e são só seis da manhã
Dois passos, mãos na cabeça
tudo confuso de lá e de cá
Amanhece mais um dia
Ela aqui, e ele lá.



domingo, 16 de março de 2014

Rituais e lembranças de passagens

Ouvir essa versão de La vie en rose nesse momento pode ter sido tudo que eu precisava.
É como se eu fosse guardar esse momento pra sempre
E sempre que eu precisar recapitula-lo ele estará aqui, com o vento e a água corrente e o cheiro de incenso
E pode ser que eu não vá exatamente lembrar de exatamente tudo,
a água vai parar de correr e o cheiro do incenso pode acabar
Mas aqui, isso sempre estará comigo, como uma parte do que me fez chegar
até aqui.

Pro novo chegar

Uma inquietação me pega
constantemente
Renitente, insistente, ininterruptamente
chata, me tirando do sério, me tirando qualquer paz que eu pudesse ter
e já nem sei se tinha mais, chego a pensar
Uma inquietação tem me pegado
é o amor
querendo se libertar
ir pra não mais voltar
Você, que eu seguro até hoje com cordas bambas e gastas
precisa voar pra longe
Dessa inquietação que tem apertado meu estômago
eu acabei de dar a descarga
No canto, a pia pinga
e eu, que não acho isso bonito nem poético mais
eu que não vejo mais esperança no pingar
fecho com tudo o registro, resolvi parar
com esse agonia sem frutos
com essa latência que atrasa
agora é seguir em frente
renitentemente prosseguir
insistentemente, viver
apaixonadamente
por algo além de você.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Recado pra Ninha

Da próxima vez que for dar atestado de trouxa, não dê.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Menino(,) no Rio

Nossa história
Deságua em nós
E nessa corrente
Queremos enchente
que nos aproxime
Mas só temos queda d'água
E nos aguamos em desague

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Pós

Queria você mais perto, meu bem
como amante e amigo também
Queria nós mais consoantes, meu bem
Você chegando pra encontrar a porta aberta
mas a porta está lá e você não sabe chegar
Queria nossos pés pelados na cozinha,
nossos corpos esquentados
numa conversa de inverno
como fazem os bons amigos
e como fariam bons namorados.

Queria seriedade com o nosso nada-sério
Mas nosso orgulho e medo
são tão sérios pra nada...
Queria podermos rir da nossa piada
e navegarmos até algum lugar feliz
nessa nossa barca furada.

Tem tanta pureza no nosso amor, meu bem
Tem tanta confusão e silêncio também...
Tem tanta coisa pra aproveitar finalmente
 Fazermo-nos finalmente a gente
Não digo pra nos fecharmos em união
Mas para nos unirmos contra o nosso passado sem chão
Transformá-lo em sorriso e saudade do futuro que podemos ser
Eu estou aqui e inteira, e você?

Mas pra uma conversa precisa dois
e pra encontrar é preciso alguém chamar
Pra companheirismo é preciso vontade
E é preciso coragem pra intimidade
Vá lá...
É preciso mais pra rompermos essa barreira
É preciso mais rompimento com o passado
É preciso encará-lo como o que foi
E querer que o novo seja
diferentemente nós.