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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Resolução

Mostra a tua cara pálida e temerosa, vai.
Encara de frente o monstro que aperta as tuas entranhas e deixa o seu coração em frangalhos.
Só quem arrisca vê de frente a máscara da vida.
O fluxo sanguíneo encaminha todos os seres humanos para as extremidades do bom senso, e aí cabe a cada um decidir se vai ficar ou saltar.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Testamento

Não quero ver minha inconstância te machucar, não quero.
Mas não posso também me ater a esse vai-e-vém do meu espírito, a esses intervalos de prazer.
No caminho entre um e outro, minha alma se esfarela cada vez um pouco mais, e o seu pó não pode virar cinzas nas mãos de ninguém. Não, nas mãos de ninguém...
O que digo aqui é que meus rastros não podem ser contruídos de lágrimas,
os meus restos não podem ser dor para quem me faz bem e a lembrança do meu rosto não pode arder - pungentemente - no peito de quem eu estimo.

Meus olhos querem poder mirar nos seus sem premência de desviarem embaraçados.

Meu lar é de marfim

Parede cinza clara dura e fria
É cama onde meu corpo descansaria
Suas janelas escuras cheias de musgo
São oceanos em que eu mergulharia sem retorno
Lábios finos e pálidos
Paraíso morno; portas de um labirinto cálido e profundo
Os braços do monstro de marfim
São pra mim porto seguro, onde eu ancoraria meu mundo

Beco do amor inabalável

A pele crua,
a amante nua
A transa boa,
a conversa à toa
A névoa da manhã
o coração da maçã
a ânsia pelo porvir
todo o caos pra dividir
a obsessão, o riso doente
pela loucura desse estado permanente

9 olhos pintados

Os dois de verdade se fecham. Oito novos tomam lugar por alguns milisegundos.
Tintas azul e branca colorem a pele morena, o rosto de mil olhos, o bicho de sete cabeças, a cabeça com mil bichos.
A figura se torna embaçada, permanecendo distintas somente as cores, que apagam os pensamentos mais remotos por alguns milisegundos.

Chicletes

O rasgo da embalagem se extende; os sentidos se amplificam. Mais e mais.
Como se o tempo permitisse que por um instante o mundo girasse mais devagar para eu assimilar todas aquelas sensações.
O cheiro de hortelã é trilha-sonora do quadro verde-escuro: o pacote preto e prata mergulhando no líquido turvo em meio a micro-bolhas gasosas; se desintegrando como se estivesse embebido em refrigerante-ácido. Uma espécie de pântano cheio de estrelas dentro da garrafa. Tudo está em paz; uma paz estranha, um fluxo lento que a qualquer momento pode estourar em mil micro-bolhas de cristal.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Premência

Fica incolor, assim, insípido até, se não tiver o frio na barriga ou o quente da alma.
Meu mundo é todo colorido, azul vermelho furta-cor
mas de repente todas as cores se unem num ponto só,
onde a minha alma se dobra toda.

Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair
Tô dividindo prá poder sobrar
Desperdiçando prá poder faltar
Devagarinho prá poder caber
Bem de leve prá não perdoar
Tô estudando prá saber ignorar
Eu tô aqui comendo para vomitar

Eu tô te explicando
Prá te confundir
Eu tô te confundindo
Prá te esclarecer
Tô iluminado
Prá poder cegar
Tô ficando cego
Prá poder guiar

Suavemente prá poder rasgar
Olho fechado prá te ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência
Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida prá poder morrer
Eu tô me despedindo prá poder voltar

Dor e dor - Tom Zé



Porque o grito dos teus olhos é mais longo que o braço da floresta
e aparece atrás dos montes, dos ventos e dos edifícios.
E o brilho do teu riso é mais quente que o sol do meio-dia
e mais e mais

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Súmula dos meus dissabores

Falta nos meus dias qualquer coisa de boêmio...
Falta qualquer boemia assim, nem tão qualquer enfim.

De frente pro crime

Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto uma foto de um gol
Em vez de reza uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém...

O bar mais perto depressa lotou
Malandro junto com trabalhador
Um homem subiu na mesa do bar
E fez discurso pra vereador...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão, perfume barato
Baiana prá fazer pastel
E um bom churrasco de gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo na porta bandeira
E a moçada resolveu parar,
e então...

Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto uma foto de um gol
Em vez de reza uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém...

Sem pressa foi cada um pro seu lado
Pensando numa mulher ou no time
Olhei o corpo no chão e fechei
Minha janela de frente pro crime...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão, perfume barato
Baiana prá fazer pastel
E um bom churrasco de gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo naa porta bandeira
E a moçada resolveu parar,
e então...

Tá lá o corpo estendido no chão...


domingo, 25 de dezembro de 2011

Don't look back in anger



Slip inside the eye of your mind
Don't you know you might find
A better place to play
You said that you'd never been
But all the things that you've seen
Will slowly fade away

So I start a revolution from my bed
'Cause you said the Brains I had went to my head
Step outside the summertime's in bloom
Stand up beside the fireplace
Take that look from off your face
You ain't ever gonna burn my heart out

So Sally can wait, she knows it's too late as we're walking on by
Her soul slides away, but don't look back in anger
I heard you say ...

Um nome pode ser uma condenação

Um nome pode ser uma condenação.
Alguns arrastam o nomeado, como as águas lamacentas de um rio
após as grandes chuvadas, e, por mais que este resista, impõe-lhe um destino.
Outros, pelo contrário, são como máscaras: escondem, iludem.
A maioria, evidentemente, não tem poder algum.
Recordo sem prazer,sem dor também, o meu nome humano.
Não lhe sinto a falta. Não era eu.

- o vendedor de passados, pág. 44

Still remains

As pérolas ainda caem, ora aqui; ora ali, será?
E às vezes ainda sinto-as queimando quando elas batem no fundo.

sábado, 24 de dezembro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

Bath trip (Anamnese)

narração descritiva e acompanhada de trilha sonora (entre chaves)

[Carried Home - Iron & Wine]
Ela passa pela porta de vidro do box. Gira o registro que será a porta de embarque para o seu devaneio.
[0'01] Caem as gotas do chuveiro. Parecem estranhamente sincronizadas.
[0'15] A água cai sobre o seu rosto.
[1'37] Ela se vê mergulhada em glicerina vermelha.
O corpo afundando devagar naquele mundo novo e estranho.
Seus cabelos se espalham acima de seu corpo, e ela se vê cada vez mais longe do mundo real.
Tudo começa a girar, cada vez mais rápido. Ela está no olho do furacão violento e tinto.
Uma tempestade-carmim arremessa-a para cima com urgência; como um aspirador, a sugar sua alma e matéria.
[Crazy - Gnarls Barkley]
[0'01] De súbito, ela está de volta.
Tudo mudou depressa. Como se ela tivesse recebido um choque elétrico, ela via mil cores e um branco intenso intercalarem.
Dançava - se é que aquilo pudesse ser chamado de dança - e pulava no cubículo de vidro.
Cada gota que caía era um pingo a mais de loucura.
Tudo rodava, estava tudo acelerado, frenético, vivo.
Sentia a água no seu corpo com uma intensidade absurdamente maior.
Todo o cenário esquizofrênico irradiava uma felicidade-elétrica, cujo ritmo acompanhava o pulso inquieto dela.
[Eletric Feel - MGMT]
[0'01] De repente ela estava dentro da própria mente. Tudo azul.
Estava rodeando o seu labirinto interno; seu motor era uma energia estranha e boa, como se o mundo todo tivesse a reunido e depositado-a naquele instante.
Suas memórias e desejos estavam vivos como nunca: o rosto de pessoas, luzes da cidade, o barulho dos automóveis, da rua e dos prostíbulos; florestas, o canto dos grilos, tambores africanos, desertos, campos gramados, duendes, sorrisos e sombras dançantes corriam como um filme em câmera rápida.
De repente tudo ficava azul de novo e começava a dissolver.
As gotas ainda estavam ali. Escorriam pelas beiradas e, ao alcançar o interior, flutuavam entre as memórias assumindo um brilho de cristal. Ao passo que se expandiam, ela retornava para o cubículo do box, guiada pela luz branca do banheiro.
[ Serpent Charmer - Iron & Wine]
[0'06] Ela começava a recobrar a percepção real das coisas, mesmo ainda residindo nela a reminescência da quimera da qual ela saía.
A água do chuveiro caía agora como um cobertor, ou talvez como as mãos do homem que amava, envolvendo-a de conforto.
Fechou os olhos e escorou o corpo no canto do box. Estava em paz.
Respirava fundo enquanto sentia o efeito contrastante da água quente e da parede gelada em sua pele.
Agradeceu pela água que caíra, que reuniu seus anseios, expulsou de seus ombros todo o peso do cotidiano, e molhou seu espírito de tranquilidade; e fechou o registro.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Comprometimento

A palavra é comprometimento.
Significado elástico.

Comprometimento. Responsabilidade; empenho.
Comprometido. Que tem uma relação de compromisso com alguém.
Comprometedor. Que expõe a riscos ou vergonhas; perigoso.

Comprometetimento, comprometido, comprometedor,comprometedor, comprometimento, comprometido, compromete...

Comprometimento
Palavra volúvel
Difícil de pronunciar; de proferir; de mencionar; articular, anunciar, balbuciar, que seja.
Comprometer-se.
Difícil, será?

Compromete. Responsabiliza. Põe empenho. Estabelece compromisso. Danifica. Expõe ao perigo, ao dano, à maledicência. À coragem, ao âmago, à outro, você. Responsabiliza-se...

Nosso estranho amor



Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer
Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor

Ah! Mainha deixa o ciúme chegar
Deixa o ciúme passar e sigamos juntos
Ah! Neguinha deixa eu gostar de você
Prá lá do meu coração não me diga
Nunca não

Teu corpo combina com meu jeito
Nós dois fomos feitos muito pra nós dois
Não valem dramáticos efeitos
Mas o que está depois

Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

De dentro. Já ao avesso mas não sai.

Pela luta entre as minhas entranhas e meus finos fios cardíacos, peço um pouco de silêncio.
Peço silêncio ao conflito entre as partes comunicantes do meu cérebro, e momento ou outro, me rendo.
Peço e de tanto pedir me vejo pedindo sem propósito, porque já estou mergulhada dentro de mim a ponto de me achar feia; vermelha e cinza demais.
E aí não tem chuva, não tem livro, não tem pranto nem sorriso que me tire desse ponto sem ponto final.

sábado, 10 de dezembro de 2011

E que por mais que eu fique louco,
Posso até morrer aos poucos
Por mim não,não tenho pressa
A minha alegria é essa

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

INFERNO, ETERNO INVERNO, QUERO DAR

Inferno, eterno inverno, quero dar
Teu nome à dor sem nome deste dia
Sem sol, céu sem furor, praia sem mar,
Escuma de alma à beira da agonia.
Inferno, eterno inverno, quero olhar
De frente a gorja em fogo da elegia,
Outono e purgatório, clima e lar
De silente quimera, quieta e fria.
Inverno, teu inferno a mim não traz
Mais do que a dura imagem do juízo
Final com que me aturde essa falaz
Beleza de teus verbos de granizo:
Carátula celeste, onde o fugaz
Estio de teu riso — paraíso?
- Mário Faustino

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

O que mais

(Des)encontros

E, fatalmente, vão se cruzar por aí. São tantas as esquinas. Vocês vão beber um café quente juntos, falar amenidades, sobre novos cortes de cabelo, você está bonita, e você mais maduro, como está sua mãe e tudo mais. Nos momentos de silêncio, baixarão o queixo, com medo de amarrar olhares e, talvez, voltar tudo aquilo outra vez. Mas vai ser só isso.

- Gabito Nunes

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Assim como esse texto, minha mente às vezes me lembra uma barata.

Caminho com minha calça larga e branca pelas ruas do meu bairro, cabelos presos pelo elástico verde e gasto num rabo que já caiu faz tempo.
"The Decemberists - Sons and Daughters" toca alto no fone de ouvido pela segunda vez desde que desci o elevador.
Passo em frente à banca da esquina, e me vem aquela vontade parcialmente aleatória de fumar. Aquela vontade que vem em momentos assim, e que é facilmente ignorável. E facilmente ignorável é também o "deixa pra lá", e acabo comprando dois avulsos, com a certeza de que um acabará amassado e jogado no lixo em breve.
Me arrependo pelo odor que fica na ponta dos dedos mais do que pelo meu pulmão em si. Se meu pulmão aguentou, junto de todo o resto do meu corpo, doses ridículas daquele dos olhos de ressaca, paciência, sobreviverá a uma fumacinha por 3 minutos.
Aliás, me surpreende o tanto que meu corpo foi, de certo modo, forte em situações nas quais quis fracamente sucumbir. Tudo bem, ele deu umas vaciladas feias nessa tentativa frustrada de se manter inabalado. Mas não custa valorizá-lo pelo esforço, que a minha cabeça por outro lado não teve a decência de fazer, inescrupulosamente levando o resto junto. Puta traidora...
Jogo o segundo cigarro no lixo e passo pela catraca.

Esquina 11

Ele era a musa dela. Estranho como é, era. Era muito e muito tempo.
Não o tinha como amigo.
Talvez a incomodasse ser assim com ele.
Talvez fosse o que devia ter sido.
Não importava agora e aqui e nesse contexto onde tudo está definido, e isso a incomodava.
Queria poder reavivá-lo em carne crua, liberar a caixa de pandora num rasgo profundo do estômago e aturar. Venha a dor que vier, que estou aqui e até hoje não saí.

Coffee under the planetarium

Escorado no canto, ele observa as cores da praça e os passos das pessoas pela janela inclinada. Fecha a mão meio boba, meio frágil, no copo de café. Está muito quente, chega a queimar um pouco a ponta dos dedos. Volta o olhar para fora. Lembra dela. Aquela praça lembra ela. Às vezes. A mão quase que de vidro segura o café. Toma um gole. Continua quente! Não importa muito... Nada importa ali.
Puxa um cigarro da bolsa marrom. Dá uma olhada ao redor. A moça do balcão não parece o notar, ainda que ele pareça grande demais no ambiente claro. Dá um trago não muito longo. Seus olhos verdes e negros fixam-se num ponto entre a parede e o vidro da janela. Abre numa página aleatória o livro em que apoiava sem querer e desajeitadamente o cotovelo. Caí umas cinzas sobre a página. Droga. Talvez a biblioteca nem note. Talvez a biblioteca nem exista mais quando for devolver o livro. Passa a mão para limpar o pó, que acaba marcando ainda mais parte do texto. "Uma mente perturbada está sempre ativa, saltitando daqui para lá, sendo difícil de controlar; mas a mente disciplinada é tranqüila; portanto, é bom ter sempre a mente sob controle.", lê. Dá outra tragada e solta uma fumaça lenta próxima ao rosto pálido.
Do outro lado da cafeteria o meu fantasma novo o observa com os ombros curvados. Sua boca parecia mover-se diferente do que lembrava... Ele não gostava de café tanto assim. Certos hábitos - vem o pensamento bobo - parece que adquiriu de propósito para provocar.
O fantasma ganha nome Macabéa; "café frio", mas não pede desculpa por ocupar espaço. Porque fantasma como era, nunca ocupou.
Ele não a notou quando saiu. Levantou rápido e esguio. Sua altura parecia quase alcançar o teto.
Ele não cabia ali.
Ela, que há muito já tinha terminado o café, não viu que direção ele tomou. Viu o fio laranja rodeando o espaço vazio. Viu o início do caminho de volta para casa.
Ele não cabia no caminho.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Do porque de não escrever sobre cogumelos, cidades de ferro, caminho sem rumo, sentimento de gelo seco, balões cor-de-rosa dentro de mim, sobre...

Eu não escrevo aqui muitos textos sem sentido, nem valorizando as vertentes dadaístas e os pensamentos que não chegam a lugar nenhum.
Acontece que disso eu tenho muito, e por isso mesmo não escrevo.
Não escrevo sobre as paredes que derretem, as gotas de tinta respingando dos prédios e das pessoas, das coisas oníferas, do incerto e daquilo que existe sem motivo de ser porque isso tudo ocupa minha mente por um tempo já muito longo dos meus dias, a ponto de eu me perder em meio a uma conversa.
Não escrevo também porque certas coisas não foram feitas para serem assassinadas pelo papel, serem dimensionadas e limitadas pelas palavras que nunca são suficientes.
Não escrevo porque tenho algo muito vivo dentro de mim, que eu não quero matar nem quero que me mate.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Hoje eu não quero escrever.
Quero só sentir, e ver como as coisas decantam dentro de mim.
Hoje eu quero só sentir, e poder substituir o medo de não sentir certo por coisa melhor.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Methamphetamine

Would I have my dose of meth again?

sábado, 15 de outubro de 2011

As vezes eu acho que os relacionamentos deviam obedecer as leis da química

Tenho um professor de química que diz que a natureza é caprichosa. De fato, os fenômenos químicos tendem a ocorrer sempre buscando alcançar um equilíbrio, uma maior estabilidade, e as coisas parecem precisamente coerentes e certas.
Mas o responsável pelo mundo esqueceu de avisar a Natureza que tinha um fator-coringa que podia botar tudo a perder: o ser humano, que ao inventar os relacionamentos desafiou a boa vontade da Senhora. A Natureza agora tinha que se virar pra encaixar esse novo elemento nas infalíveis regras do equilíbrio.
Bom, perdoe-me pela sinceridade, mas você que é dona da ordem desse planeta falhou miseravelmente. Imagino a dificuldade que deve ser ter todo esse mundão pra cuidar, e admiro a persistência, mas se Você tivesse parado um momento pra refletir sobre nós, criaturas humanas, não estaríamos em tantos apuros; e quem sabe nem estaríamos nos vingando tanto da Senhora (daquele jeito que o filho rebelde trata quem o cria em algum momento da vida, por não compreender os seus meios, sabe?)
Portanto, fica aqui a minha sugestão atrasada: tem certos sentimentos que deviam ser não-espontâneos, como as reações que só ocorrem se a gente dar um grau na temperatura. Caso contrário, tudo continuaria no mais perfeito equilíbrio.

Tenho um professor que diz que a natureza é caprichosa. Sei não, sei não...
Seu corpo ardia febril, ao pensar na possibilidade dele estar ali, deitado ao seu lado; suas pernas se enroscando embaixo do lençol. Suas mãos chegavam a tremer, ao imaginá-las tocando o rosto-de-vidro dele, sentindo aquela pele quente que tornava tudo tão real.
Ela dormiu imitando o sorriso dele.



- Antes do sono chegar imagino um milhão de mundos, e aí já não sei de qual eu gosto mais.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Do que não é domínio público

E você se vê exigindo respeito, por mais incoerente que seja você se importar, porque tem certas dores e alegrias que merecem ser só nossas, sem ninguém pra dividir ou imitar. E se Infortunamente não são, que os outros tenham a decência de não escancararem suas memórias e impressões, afinal o seu sentimento é por algo que é de outra pessoa também.

Sobre o egoísmo dos que pensam que são os únicos que amam ou odeiam, que riem ou que sofrem.

(E da cara de pau de uns que dizem que se importam e sentem muito.)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Da MPB traduzindo tudo



Woke up this morning
Singing an old, old Beatles song
We're not that strong, my lord
You know we ain't that strong
I hear my voice among others
In the break of day

Hey, brothers
Say, brothers

It's a long long long long way
Os olhos da cobra verde
Hoje foi que arreparei
Se arreparasse a mais tempo
Não amava quem amei..
.

Arrenego de quem diz
Que o nosso amor se acabou
Ele agora está mais firme
Do que quando começou
It's a long road

A água com areia brinca na beira do mar
A água passa e a areia fica no lugar...

E se não tivesse o amor
E se não tivesse essa dor
E se não tivesse sofrer
E se não tivesse chorar
E se não tivesse o amor


No Abaeté tem uma lagoa escura
Arrodeada de areia branca

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Das coisas entre 2

 Não tinha outro som no mundo que não o das gotas do chuveiro e a voz dele. Falava sobre o que acreditava e sobre o que ainda não sabia. Falávamos assim, debaixo do chuveiro, das coisas da vida.
Depois nos enfiamos nus debaixo do lençol e esquecemos do resto das coisas.

the circus in my living room

  O silêncio é quebrado pelo barulho de louça tremendo. O brilho dourado que encontrou espaço entre as rendas da cortina repousa nas xícaras de porcelana. Vultos disformes se aproximam, ao tilintar do que parecem moedas... O som de um pandeiro cigano, será?
  Um feixe de luz ilumina a penumbra, revelando alguns contornos das figuras que avançam, envolvidas por uma espécie de poeira. Amarelo, vermelho; cores do circo as acompanham. Cores meio gastas, sapatos meio gastos, pessoas meio gastas. Figuras circenses com isso ou aquilo corroídos, passos arrastados e cambaleantes, dotados de uma elegância estranha. Seus corpos caminham juntos como se fossem uma coisa só, como se fosse ensaiado, exibindo os mesmos diferentes gestos agudos. Rasteiros, sao desajeitados e encantadores, de expressões tristes e fortes, nobres e pobres. Carregam um ar convidativo, que é tanto hesitação quanto curiosidade.
São tão tortos! E são tão bonitos...
As almas se misturam meio sem querer e meio que se entregam. O sol e as xícaras fazem amor.

domingo, 11 de setembro de 2011

  A forma como Manuel Bandeira encara a morte é além de linda, sábia. Abre as portas para a sua chegada com uma serenidade resultado de longos anos convivendo com a ideia do fim. Quase que namora a morte, alguns dizem. Ela se torna coisa próxima, fazendo-se lembrar nas coisas grandes e pequenas da vida. E aí o poeta trata também a vida com respeito, sabendo aceitar sua fragilidade e descobrindo a beleza simples no existir.
 
  Não joguem pedras na morte. Ela está aqui para cumprir a sua função e só.
  Talvez não só...

 
                              Consoada


Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
- Manuel Bandeira

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Coffee Heart

Ele te esquenta no frio, te traz aconchego nas manhãs mais cinzas
e te dá ânimo quando você quer desistir.
Mas diante dos mais indelicados, ele queima, e sem dó.

Pode ser suave ou carregado de sabor, reflexo das circunstâncias e humores.
Pode ser doce ou amargo, depende de quem o tratar.

Ele é clichê, assim como as formas mais educadas e discretas
de se pedir respeito, compreensão e um pouco de carinho.

Bem vindo ao meu coração de café...

[6/9/2011]

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Céu de 6h da tarde.

  Eu tenho um desespero micro e um macro, um sentimento forte que Bob Dylan arranca de mim com essa música, sobretudo quando ainda não escureceu mas já não está mais claro.
  Micro, sobre as coisas pequenas do dia-a-dia, da vida aqui e agora.
  Macro, o mais abstrato e pesado, das coisas do mundo, que são muito mais sérias do que as que eu costumo presenciar no cotidiano, mas sei que existem. E aí eu me sinto imensamente mal e desconfortável, por ser tão afortunada enquanto outros padecem no sofrimento em outro canto do mundo.
  A fome, a guerra, a miséria, o descaso. Os resultados da loucura humana de pensar que as pessoas servem ao dinheiro e não o contrário. Os distúrbios do mundo, que você sabe que serão mantidos pela ganância e pelo egoísmo das pessoas, e aí eu vejo, como um flash, toda a maldade e a frieza da vida que levamos sem perceber.

 E a vertente romântica e esperançosa da Ninha fica no outro post.
Vou dormir pensando nas máscaras do teatro...

Céu azul de manhã

Eu quero mais riso. Quero mais violão.
Quero mais abraços. Quero mais café e mais conversa-de-domingo.
Quero gente mais bem humorada, que ri de bobagem; gente mais irreverente, assim.
Quero gente que ama e gente que torce o nariz. Gente com gostos e desgostos, com alguma alma pra mostrar.
Quero mentes mais abertas e quero, sobretudo, a extinção e abominação total do preconceito.
Quero gente que respeita a dor e sabe ter compaixão.
Quero um mundo mais assim, humano, no que isso tem de positivo.
Quero um mundo mais utópico, porque agora estou romântica e clichê, e quero que isso não morra nunca.

Desabafo: FOMO

   Eu estava indo bem, o dia foi bom, aquele sentimento para o qual eu ainda não dei nome não tinha me atingido.
   Mas foi lendo o texto de Thiago Lasco sobre FOMO, (Fear of Missing Out, ou seja, o medo de ficar sozinho, ser deixado de fora) que esse meu sentimento para o qual eu ainda não dei nome voltou.
   Esse sentimento é difícil de definir. Não é raiva, porque tem um quê de dó. Não é dó, porque tem um quê de repulsa. Não é repulsa, porque tem um quê de compaixão. Mas também não é compaixão, porque tem um quê de desânimo.
   Sei que são muitos sentimentos ruins pra um parágrafo só. Mas é isso mesmo. E aqueles que consideram inconcebível tanta negatividade, pois bem, de repente são responsáveis por esse meu incômodo.
  Quando entro no facebook, é quase sempre o mesmo processo. Checo o número na caixinha vermelha que indica o número de atualizações que são referentes à mim, enquanto percorro com os olhos as atualizações mais recentes. Por alguns segundos, rezo pra ter algo interessante, mas a esperança reduz quando faço a conta mental do número de pessoas que de fato compatilham coisas interessantes versus o número de sujeitos que cospem coisas que me são indiferentes ou, quando o azar é maior, chegam a me irritar. Irritar não. O sentimento é aquele, que ainda não tem nome.
   Claro, compartilhar momentos de alegria, artigos engraçados e manter contato com as pessoas que você gosta, ou até mesmo conhecer novas pessoas é saudável e positivo. Mas acho que tem um limite pra tudo. Há uma extrapolação do sentimento e da necessidade de ser visto, de tal forma que fica perceptível, para os olhos mais e menos atentos, que em certas fotografias a alegria não é legítima, os protestos não são ideais de fato e comentários pra lá de dispensáveis tiveram uma carga de esforço que não condiz com a sua importância.
   Piadas internas só são internas quando você não faz força pra que os outros se interessem em descobrir. Sentimentos pessoais só são pessoais se você não escrever sobre eles no seu mural esperando que as pessoas perguntem sobre a sua crise. Se seus planos são "não divulgáveis" não faça sneak peeks, por mais que você queira, sua vida não é um programa de TV.
   Não é que me revolte, afinal em nada afeta a minha vida a existência de um ou outro carente de atenção. Mas quando esses tipos se tornam maioria, além de ofuscarem pessoas que tem de fato bagagem interessante para compartilhar, (pois essas se perdem no meio dos "onde estou, fazendo o que"e HAHAHAHAHAs) uma tendência preocupante é evidenciada: um número cada vez maior de pessoas que, buscando não serem "apenas mais uma na multidão" escancaram suas particularidades e privacidades.
   Talvez seja a vida dinâmica como é hoje, com muito pra conhecer e o tempo é curto, e por isso deve ser aproveitado ao máximo. E aí vem o fenômeno da FOMO, pessoas desesperadas para ter a foto mais popular da semana, para serem chamadas pra todo e qualquer evento, para serem notadas.  Receber um "curtir" pelo seu senso de humor é quase como se a pessoa houvisse um "eu gosto de você". Ser mencionado em um comentário então, um orgasmo. Um esforço-monstro para despertar um interesse-placebo que chega a ser um pouco patético.
   A questão é saber viver bem independente dos holofotes da internet; viver mais para si e não para os outros. As suas experiências não podem ser menores do que os comentários sobre ela. Esteja inteiro quando você está em uma mesa, em uma festa, em uma roda de pessoas. Pare de ficar encarando a tela, e não se deixe depender de um acesso 3G para render um assunto. Não se torne parasita obrigatório da internet, a vida tem muito mais do que isso pra oferecer.
   E por favor, pare de me contar 90 coisas de uma vez sobre você. Valorize as informações a seu respeito, até porque "livros abertos" e "águas rasas", justamente por serem fáceis e rápidos demais de serem compreendidos, não despertam o interesse que você almeja com todo esse show.

Hmm, sinto que meus amigos no facebook diminuirão depois dessa...