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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Coffee under the planetarium

Escorado no canto, ele observa as cores da praça e os passos das pessoas pela janela inclinada. Fecha a mão meio boba, meio frágil, no copo de café. Está muito quente, chega a queimar um pouco a ponta dos dedos. Volta o olhar para fora. Lembra dela. Aquela praça lembra ela. Às vezes. A mão quase que de vidro segura o café. Toma um gole. Continua quente! Não importa muito... Nada importa ali.
Puxa um cigarro da bolsa marrom. Dá uma olhada ao redor. A moça do balcão não parece o notar, ainda que ele pareça grande demais no ambiente claro. Dá um trago não muito longo. Seus olhos verdes e negros fixam-se num ponto entre a parede e o vidro da janela. Abre numa página aleatória o livro em que apoiava sem querer e desajeitadamente o cotovelo. Caí umas cinzas sobre a página. Droga. Talvez a biblioteca nem note. Talvez a biblioteca nem exista mais quando for devolver o livro. Passa a mão para limpar o pó, que acaba marcando ainda mais parte do texto. "Uma mente perturbada está sempre ativa, saltitando daqui para lá, sendo difícil de controlar; mas a mente disciplinada é tranqüila; portanto, é bom ter sempre a mente sob controle.", lê. Dá outra tragada e solta uma fumaça lenta próxima ao rosto pálido.
Do outro lado da cafeteria o meu fantasma novo o observa com os ombros curvados. Sua boca parecia mover-se diferente do que lembrava... Ele não gostava de café tanto assim. Certos hábitos - vem o pensamento bobo - parece que adquiriu de propósito para provocar.
O fantasma ganha nome Macabéa; "café frio", mas não pede desculpa por ocupar espaço. Porque fantasma como era, nunca ocupou.
Ele não a notou quando saiu. Levantou rápido e esguio. Sua altura parecia quase alcançar o teto.
Ele não cabia ali.
Ela, que há muito já tinha terminado o café, não viu que direção ele tomou. Viu o fio laranja rodeando o espaço vazio. Viu o início do caminho de volta para casa.
Ele não cabia no caminho.

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