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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Assim como esse texto, minha mente às vezes me lembra uma barata.

Caminho com minha calça larga e branca pelas ruas do meu bairro, cabelos presos pelo elástico verde e gasto num rabo que já caiu faz tempo.
"The Decemberists - Sons and Daughters" toca alto no fone de ouvido pela segunda vez desde que desci o elevador.
Passo em frente à banca da esquina, e me vem aquela vontade parcialmente aleatória de fumar. Aquela vontade que vem em momentos assim, e que é facilmente ignorável. E facilmente ignorável é também o "deixa pra lá", e acabo comprando dois avulsos, com a certeza de que um acabará amassado e jogado no lixo em breve.
Me arrependo pelo odor que fica na ponta dos dedos mais do que pelo meu pulmão em si. Se meu pulmão aguentou, junto de todo o resto do meu corpo, doses ridículas daquele dos olhos de ressaca, paciência, sobreviverá a uma fumacinha por 3 minutos.
Aliás, me surpreende o tanto que meu corpo foi, de certo modo, forte em situações nas quais quis fracamente sucumbir. Tudo bem, ele deu umas vaciladas feias nessa tentativa frustrada de se manter inabalado. Mas não custa valorizá-lo pelo esforço, que a minha cabeça por outro lado não teve a decência de fazer, inescrupulosamente levando o resto junto. Puta traidora...
Jogo o segundo cigarro no lixo e passo pela catraca.

Esquina 11

Ele era a musa dela. Estranho como é, era. Era muito e muito tempo.
Não o tinha como amigo.
Talvez a incomodasse ser assim com ele.
Talvez fosse o que devia ter sido.
Não importava agora e aqui e nesse contexto onde tudo está definido, e isso a incomodava.
Queria poder reavivá-lo em carne crua, liberar a caixa de pandora num rasgo profundo do estômago e aturar. Venha a dor que vier, que estou aqui e até hoje não saí.

Coffee under the planetarium

Escorado no canto, ele observa as cores da praça e os passos das pessoas pela janela inclinada. Fecha a mão meio boba, meio frágil, no copo de café. Está muito quente, chega a queimar um pouco a ponta dos dedos. Volta o olhar para fora. Lembra dela. Aquela praça lembra ela. Às vezes. A mão quase que de vidro segura o café. Toma um gole. Continua quente! Não importa muito... Nada importa ali.
Puxa um cigarro da bolsa marrom. Dá uma olhada ao redor. A moça do balcão não parece o notar, ainda que ele pareça grande demais no ambiente claro. Dá um trago não muito longo. Seus olhos verdes e negros fixam-se num ponto entre a parede e o vidro da janela. Abre numa página aleatória o livro em que apoiava sem querer e desajeitadamente o cotovelo. Caí umas cinzas sobre a página. Droga. Talvez a biblioteca nem note. Talvez a biblioteca nem exista mais quando for devolver o livro. Passa a mão para limpar o pó, que acaba marcando ainda mais parte do texto. "Uma mente perturbada está sempre ativa, saltitando daqui para lá, sendo difícil de controlar; mas a mente disciplinada é tranqüila; portanto, é bom ter sempre a mente sob controle.", lê. Dá outra tragada e solta uma fumaça lenta próxima ao rosto pálido.
Do outro lado da cafeteria o meu fantasma novo o observa com os ombros curvados. Sua boca parecia mover-se diferente do que lembrava... Ele não gostava de café tanto assim. Certos hábitos - vem o pensamento bobo - parece que adquiriu de propósito para provocar.
O fantasma ganha nome Macabéa; "café frio", mas não pede desculpa por ocupar espaço. Porque fantasma como era, nunca ocupou.
Ele não a notou quando saiu. Levantou rápido e esguio. Sua altura parecia quase alcançar o teto.
Ele não cabia ali.
Ela, que há muito já tinha terminado o café, não viu que direção ele tomou. Viu o fio laranja rodeando o espaço vazio. Viu o início do caminho de volta para casa.
Ele não cabia no caminho.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Do porque de não escrever sobre cogumelos, cidades de ferro, caminho sem rumo, sentimento de gelo seco, balões cor-de-rosa dentro de mim, sobre...

Eu não escrevo aqui muitos textos sem sentido, nem valorizando as vertentes dadaístas e os pensamentos que não chegam a lugar nenhum.
Acontece que disso eu tenho muito, e por isso mesmo não escrevo.
Não escrevo sobre as paredes que derretem, as gotas de tinta respingando dos prédios e das pessoas, das coisas oníferas, do incerto e daquilo que existe sem motivo de ser porque isso tudo ocupa minha mente por um tempo já muito longo dos meus dias, a ponto de eu me perder em meio a uma conversa.
Não escrevo também porque certas coisas não foram feitas para serem assassinadas pelo papel, serem dimensionadas e limitadas pelas palavras que nunca são suficientes.
Não escrevo porque tenho algo muito vivo dentro de mim, que eu não quero matar nem quero que me mate.