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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ahnuncionão

Precisa-se de amor
Precisa-se de caber em algum lugar
Precisa-se de não precisar anunciar.

Breu. Adeus.

Ela ergueu-se nos pés descalços
balançou titubeou sambou e se jogou
no precipício do banco
cinza
concreto
Dilacerou a alma no meio da grama
Entrelaçou-se na árvore e lá largou o desespero
como cachorro que fica sem dono
Mergulhou na água turva da lagoa da Pampulha
Ele, que olhava de longe
nem tão distante
Nó no seu coração dilacerante de si, cortante
sangrou na grama por caminho semelhante
em pingos
Não contou as gotas, estava certo
Quis - ou a falta de opção não seria de fato um querer? - deslizar
largar seu corpo à próxima sorte - que azar ainda poderia vir? - largar tudo
Agarrar-se tão somente ao desgarrar, rasgado demasiado que estava
E dançou cambaleante o caminho gramaárvoreágua
hipnotizado por ela, pela primeira vez em tempos tinha um norte
Amante-Mãe-Morte
E embrenharam-se os dois no escuro
Uniram o uivo silencioso do não mais viver
E se fizeram desaparecer
Na água turva da lagoa
Morreram juntos

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Sem título que dê pra dar.

Essas tais variações de cor
Deixei um tom de azul iluminando o banheiro
Parecendo quando o dia começa a pratear, mas parecendo também a noite que não quer acabar
Ficou um clima francês inteiro
Velas na bancada, meu eu de hoje se mostrando no espelho
nessa meia luz que me consola e renova
resolvi lavar os pés (como se eu fosse dormir)
Lembrei de quando você estava aqui e lavava meus pés
Foi bom durante durou
Passou
Agora parece que nada passa mais...
Só as cinzas de cigarro pelo ralo

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Como um não

Isso de não poder dizer me corrói cada vez mais um pouquinho
Fica um buraquinho, buraco espaço vago
Que aperta.
Engraçado como o vazio aperta
Isso de não poder dizer vou dormir com você, volta aqui, deixa eu entrar
Isso de não ter liberdade pra fazer
Quero fumar, quero morrrrder, quero cortar!
Isso de não poder acaba [acabar. acaba?]
Acaba com a parte de mim que quer existir
Engraçado como o que não existe reclama
Dar um laço no espaço
Que saco, por que não?
Abra, abra meu coração!
Cansei dele ser só peão

"Há pior que a morte:
há o não viver"
Dizem as letras fortes na pilastra
parada
Um espirro, nesse ponto, parece um a-tentado

Me morro um pouco nesse não ser

Me perder nesses cachos
Cabeça pra baixo
O acaso
é torto
ou morto?

Tempo é quando

20 21
22
23
24
25
26 27?
E já estou velha.
Faca cega.

Caetanar à trois

Dois pés cançados e esperançosos descansam na ponta da rede
A ponta dos sapatos apontam do outro lado
Quatro pés descansados um no outro
Ali o mundo parece em paz
Assim, ainda, os quatro pés levantam-se
Caminham em diferente ritmo, mas sincronizados como uma dança bonita como tango
E abordam - não, aqueles não abordam, mas se apresentam suavemente aos outros mundos, leves e abertos
Enfim, se aproximam dos dois pés curiosos
- Escutando o quê?
- London, london...
Entrego a música àqueles felizes ouvidos
Atentos, eles adentram
um pedacinho azul rosa-chá do meu mundo
Fazemos caber na rede
Seis pés, três corações
Afinal, realizam métrica bem construída
Mexe qualquer coisa dentro doida
Então não se avexe não,
Baião à trois, ah! Ah...
Medimos distâncias de lábios e braços
Abraço, abraçasso
Beijo calmo
O mundo expande ao nosso redor
Estamos em paz em três agora e só
Não exige explicações
São só harmonias possíveis bonitas sem juízo final
Mas se cabem observações,
É como surgindo sol na noite
Explodindo em canto, um folk um tanto romântico
É, se cabe de parar pra observar,
Ocorreu de minhas cores desbotadas repintar
azul celeste, celestial
Como pintado na bochecha dela
Que o faz sorrir
O simples colorir
Nos colorimos
Juntos rimos,
sem saber bem porquê
Talvez pela nova experiência de ser.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Caetanagens

Feixes de luzes alaranjadas amarelas vivas
correm na beirada da pequena xícara turca
Mais um cigarro
Mais um trago, mais um suspiro, respiro...
Às vezes não sinto a diferença entre um e outro
Deixa o pagode romântico soar...
Em badaladas de amor nosso tempo se vai
Corroemos os cantos que ainda sobram, aflitos e desesperados
por esse fim mal anunciado, retórica dos namorados...
Que seja, que seja, que fosse, se fosse...
Ah, vá, que venha o que tem que vir
Mas que demore, que embole mais um tempo
que enrole, ah, que rebole o tempo.
Morreremos aos poucos assim
Enrolando nossas pernas
fotografando na retina desses olhos lindos
nossos pelos brasis
Deixa esse ponto brilhar no atlântico sul
Coração azul
Forte e cortante
Ficou instituído
Estamos parados nesse instante de nunca parar
Nada virá
Será...
Ninguém pode ser tão feliz?
Recântico infeliz
Aprendiz do amor, a gente cambalea
Traz o amor, o futuro fica lá fora
Macabéa na sua vida, minha estrela não tem hora
Aprendizes da dor, inventamos palavras
Para o que não é traduzível nem em uirros
Talvez em uirros... Mas não os ouviremos
beijos loucos gritos roucos só o Chico
Aqui são outros. Loucos. Mudos. Roucos...
Por aqui, a cabeça aí, longe
Traz pra perto seu desassosego, vai
Cai nas teias do natural, do que é palavra feia e forte, visceral
Carreguemos praquele carro nossas bagagens
Caetanagens
Pequenas grandes sacanagens
Nas quais nos embrenharemos,
embrenhando no emaranhado desses seus cabelos
penteando os fios intermináveis do que vivemos
Oremos
Que o tempo, tempo, tempo se recolha, em vão
Deixe respirar esse novo velho amor pagão
Deixe respirar, mas não em tragos de cigarros,
suspiros meio muito estranhamente respirados
Que respiremos perto
transformando esse nosso inverno
essa hibernação desinvernar
Desenvenenármos eu nosso próprio veneno
Veneno da cobra verde, olhos verdes,
ciganos seremos, serenos, será?
Desembaralhemos esse castelo de cartas iguais
que mais prende do que protege, 
Que construímos num invisível; invencível cais
Nosso, comum, não visitado
Que isso não seja um fado
Um fardo, não
Que você possa me dar a mão
E carreguemo-nos, com a mão livre, leves no coração.
Como a fumaça desse cigarro, mais um, mais tantos
Mais uma nova velha canção
no meu peito de  insensatos incendiantes incessantes prantos
Queimemos em febre nossos caetanos

[e não ponho ponto final,
porque nesse ponto afinal
quero ter minhas coxas apertadas nas suas
costas nuas
loucuras cruas
bocas sujas
das palavras que nunca dizemos
e agora verbo-reageremos
Caetanices sandices meninces
maturidades e pessoalidades
compartilharemos fases
físicas críticas místicas com carícias em leque
Xeque:
Diremos. Atestaremos.
E um dia enfim, seremos.]

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Merda, rapaz.

Dói.
Dói daquele jeito besta e forte.
Dói e é bem ridículo, desses ridículos de entrar numa página do facebook e ver que você tem uma nova foto de perfil e me perguntar o que anda fazendo da vida só por conta disso.
Dói que você, por outro lado, deve estar vivendo a vida leve sem nenhum problema com o que foi a nossa amizade. Dói que talvez a razão para que ela tenha acabado seja nem tão grande assim, já que você superou facilmente e seguiu. Dói não saber.
Dói também que talvez sua vida nem esteja tão leve, mas isso não tem nada a ver comigo.
Dói, e dói muito, e não tem nenhum poema ou texto bonito que eu consiga fazer sobre isso.
Só o silêncio.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Convite para um novo tipo de amor

Será que ainda te conheço?
Quer dizer, não te conhecia naquela época, e já te amava.
E não te conheço hoje, e ainda te amo.
Te amo diferente, e diferente como és hoje.
Você me amou diferente como eu era. Será que ainda me ama hoje?
Me amará amanhã?
Espero que sim. Acredito que não morreremos nunca.
Mesmo podendo morrer amanhã.
Não morreremos jamais dentro de nós.
E afinal de contas,  ninguém nos conhece por completo, nem nós mesmos.
Mas acredito, acredito sim, pode acreditar: sinto que te conheço.
Com todos os desconheços, te vejo.
Te vejo e gostaria de ver mais, de ser mais, de sentirmos mais. Por que não?
Gostaria que soubesse que sei que esses olhos não são tristes nem frios
mas quentes, cheios de dúvidas, cheios de desejos, inqueietudes
complexidades e completudes.
É, acredite, você é cheio de completudes, ainda que mutantes - como é natural do ser.
Na nossa incompletude me consterno e me arremato.
Acredito que você também... Talvez seja para você lamentavelmente adorável a ideia de nãos sermos.E de não nos acabarmos.
Que coisa mais esquisita o nosso caso...
Mas meu amor (e aqui não digo como no passado, mas com a maturidade de um amor crescido e puro, contemplado na busca pelo desapego)
Meu amor, não tens que ficar só.
Não tens também que ficar só comigo. Somos livres, pra ir e pra voltar.
Mas se quiseres, estou aqui, nos dias de chuva, às 3 da madrugada,
pra fazer algo que seja importante, pra não fazer nada.
Pode me mostrar sua carência, meu colo é afeto.
Pode me confiar a amizade, que eu retornarei.
Não te pedirei nada além da cumplicidade
para encararmos - quando quisermos - juntos essa sociedade
rica, mas doente; dinâmica, mas impaciente.
Mas calma, não se desespere com essa minha resenha!
Não se assuste mais com a possibilidade da minha presença.
Não é nenhum voto para arrebatar seu coração, não te peço nas minhas mãos
É tão somente uma porta aberta, não é preciso ficar tão alerta.
Não veja isso como uma declaração renitente
Nem do passado querendo reinventar-se no presente
É tão somente o meu carinho, que aqui ponho a seu dispor
para quando estiver a fim,
Quando quiser, sem medo e sem expectativas, um novo pouco mais de mim.

Good Morning Kelly

Dou bom dia para Kelly
água fria na pele quente
no dia quente
parece praia.
Ladrilhos coloridos na parede ao redor
do que não é um espelho, uma espécie de panfleto antigo
o chão permanece frio.
Seria um belo bom dia
se houvisse um assovio, um chamado,
vindo ali do metro ao lado,
ainda que cansado.
Mas continua sendo um bom dia.
A tela recorta esse momento 
Um corpo bonito e nu descansa
Outro corpo bonito e nu levanta
sob a luz da cortina tom pastel.
Dá bom dia para Kelly, que dá bom dia pro outro corpo todo dia.
É um bom dia, tenha começado ele vermelho ou terminado bege-cortina.
É um bom dia para as duas moscas nuas
Duas moscas sedentas por sangue
sangue vermelho como o tapete persa pendurado na parede
vermelha
vermelho
como já foi o sangue que jorrou daquelas cicratrizes
que ele tem, ela também.
jorrou afora, jorrou por dentro, que seja.
Poderiam se conhecer melhor
poderiam se reconhecer piores
Que seja.
Ficou pra trás uma vela em meio à cerveja
Depois vou lá buscar.
O nosso negócio é transar e continuar
O nosso negócio é transar mas não deixar o sangue transbordar.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Segundo as perspectivas de Escher

Se nesse instante
da sala do periscópio
vi meu amor no poço infinito
estaríamos presos ou fadados à eternidade?
Ou seria a mesma coisa?
Ou é a mais lúcida liberdade,
e a gente, humano de mente e coração doente
é que cria - louca ou racionalmente - perspectivas irreais?

Saí do periscópio
(Ainda que prolongado esse pensamento inócuo)
e voltei a caminhar com os loucos normais.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Passando... O homem e você.

Um homem passa balançando um guarda-chuva (por que é sombrinha para mulheres e guarda-chuva para homens? Mulher não guarda chuvas, está sempre seca e bem apresentável à sombra?)
Pra onde ele vai? Não sei... Talvez nem ele mesmo saiba.
Pra onde eu vou? Nunca sabemos ao certo.
Sou só mais uma pessoa olhando da janela a vida cotidiana...
É engraçado como o cotidiano pode nos afastar na ideia do futuro sendo eles tão entrelaçados...
A lua está escondida atrás de um prédio. De outra janela deve ser possível vê-la. Ou será que depende só de nós, aqui de nossas janelas, querer vê-la?

domingo, 13 de outubro de 2013

Mambembe

Mambembe
É como me sinto.
Mambembe
é se sentir assim
à mercê do tonto querubim
que já nem faz tanta questão assim
de te ajudar a levantar
Querubim sem asas
pois se asas tivesse
levava as palavras de amor
pra onde devem estar
Se alguma compaixão restasse,
levava-me desse lugar
Mambembe.

Não faz assim

Dói, essa coisa pequena...
Dói, você acha um problema
De repente tudo fica tão claro, como um sábado nublado
De repente fica tudo tão turvo, você não consegue ver o fundo
Não pode ver para além da esquina,
seus passos não acompanham mais, talvez?
Qualquer consolo pra ficar em paz
Mas quê isso, rapaz
Se essa paz estava ali faz tão pouco tempo
Como de repente isso vira um tormento?
Não entendo.
Talvez as coisas não nos caibam mais
talvez seja hora de dormirmos em paz...

A cidade e seus pólos/pólens mil

Pessoas cheias de expectativas nas suas saias justas e brilhantes e calças bem passadas
Quase todas frustradas
E do outro lado da cidade uma trupe de gente sem vaidade
se regogiza numa batucada de bamba
Pintando com giz de cera as cores de uma nova era
Ao som da roda de samba
É, me achei nesse lugar
e enquanto pudermos nos acompanhar, fico por aqui
bamba, bamba, bamba...

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Fora de Ordem

De dia penso no cano da pistola que as crianças mordem...
De noite penso no cano da pistola que as crianças mordem,
na sua batata da perna moderna, na trupe intrépida em que fluis...
Ocupando o espaço daqueles que dormem,
reviro a madrugada
Fumando meu cigarro, vendo filmes franceses e curtas chineses
Trabalhano no mérito daquele texto que me pediram pra fazer
e me trabalhando nos textos que me completam
e me deixam por fazer
Pensando em quem sobe ou desce a rampa
Rememorando alguma coisa em nossa transa
que é quase luz forte demais
Parece pôr tudo à prova
Parece fogo, parece
Parece paz, parece paz...
Um show de Jorge Benjor dentro de nós
Por que não sentí-lo no horário que bem quisermos?
Que se dane se eu estou na ordem inversa do mundo
Eu sei o que é bom...
E quem disse que de fato estou tão inversa assim?
Não seria os outros, os que amarram suas particularidades
que abafam suas transgressividades?
Eu não espero pelo dia
Em que todos
Os homens concordem
Apenas sei de diversas
Harmonias bonitas
Possíveis sem juízo final...
E que seja então fora de ordem, então
prefiro continuar com minhas harmonias bonitas no escuro
esperando a hora clara em que os outros também as ouvirão

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Acalmar...A cá, o amar.

Ó meu bem, deita aqui ao meu lado, nesse quarto acinzentado pintado de azul...
Sem nos superpreocuparmos com o além, com o que vem depois...
Saibamos ter a tranquilidade de estarmos nesse momento e nele apenas.
Saibamos, claro, admirar o passado por ter-se feito escada para o hoje. Mas não vamos contemplá-lo como a um deus inalcançável, sabe?
Sejamos saudáveis. Mas também honestos para admitirmos nossa humanidade em não sermos sempre saudáveis. Saibamos lidar com isso, aceitar nossos erros como parte natural e indissociável da condição de existir.
E vamos existir, aqui, ouvindo London, London e percebendo as partículas dançarem na luz que passa pela janela.
Pois é, as partículas, que parecem tão paradas, estão na verdade se movendo, percebe?
Pois assim, também nós devemos nos refrear pra melhor caminhar.

Acalmar.
Acalentar o mar...
A cá, o amar.

Da solidão - quão ilusória?

Não sei... me sinto tão bem quando estou sozinha, na maioria do tempo.
Será isso um índice de pouca sociabilidade, ou simplesmente de equilíbrio espiritual?
Na real, não sei se é um bom sinal, por aproveitar minha própria companhia, sentindo que não preciso de mais nada naquele momento; ou se é meu próprio "enganamento", fingindo não saber precisar de algo mais.
Na real mesmo, acho que é porque no fundo, não me sinto sozinha nesse exato momento. Porque no quadro geral, talvez eu não esteja sozinha afinal...

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Francêsinglêsportuguêsmangalês
Abolimos as línguas
Fronteiras não existem
Flutuamos
Cambalhotamos em gelatina e pó
Somos livres, nem sabemos o antônimo disso
Fluidos existimos
Não existe amor ou desamor
Sabor ou dissabor
Não existe o muito, não há gradações
Não admiramos relógios derretidos, pois derretemos todos os conceitos
de hora, dias e ponteiros
Não existem classificações, definições, titulações
Não existe início meio nem fim
Nada cabe em você ou em mim, somos uma coisa só não-coisificável,
Somos tudo, incontáveis como, se nem sabemos contar?
Expandiríamos no ar, mas não acreditamos nas divisões atmosféricas
Somos todas as cores infinitas e indissociáveis
Se misturando num gel galático - mas o que seriam as galáxias
Se não estrelas e astros vários
que não sabemos diferenciar do universo inexplicável que somos?

sábado, 5 de outubro de 2013

Vamos

Na contramão da via
Aceleramos indomáveis
Na direção do tempo
Com ele não brigamos
Combinamos
Fizemos um acordo não verbal, transcendental
E o céu se abriu pra sempre pra nós

Nesse instante infinito

Bababa conversamos
Papapapa dançamos
nos enrolamos
Engatinhamos feito gatos
Magnetizados
Noite adentro e fora
De dentro pra fora
Toda energia aflora
Agora

Próximo minuto

Desisti de me segurar
O trago quente, caiu as cinzas prédio abaixo
E eu me joguei em brasas
Em asas cintilantes
Pro que pode ser o melhor dia da minha vida

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

São muitos amores entre os cafés e as músicas francesas. Não me leve a mal, eu amo, a vida faz o cinema em toda sua leveza e profundidade.
Mas nos almoços, intervalos, saídas do trabalho e trânsito caótico, precisamos de doses fortes: o amor tem que preencher os poros!
Sexo no banho meio-dia, beijos no rosto entre salas, colos pra cochilar; presentes coloridos - da matéria ao abstrato - sem motivo. Só pelo motivo de viver e vivermos juntos.

Pra você

Gosto de pensar que a última coisa que você publicou no seu blog continua sendo a última porque eu elogiei.
Mas não desejo que esteja estagnado de criatividade, ó não, jamais! Pelo contrário: se seu talento cessar apagarão estrelas no universo, seria um desperdício sem tamanho, uma afronta à poética do mundo!
Mas olha, se lhe faltar a criatividade, sente ao meu lado. Nem que seja pra ficar em silêncio... E se caso ela voltar (ah, que coisa alegre no sentido mais puro que há seria se isso acontecesse ao meu lado!), que você me encare com esses olhos de comer músculos cardíacos e se ponha a escrever, vai lá!
Agora gosto da ideia de você estar lendo. É, sei lá, vai ver estamos mesmo amadurecendo, não é? Se um dia tivemos barreiras intransponíveis, se às vezes nossas mentes tão transbordantes não conseguiram comunicar com nossos lábios, que fisicamente se calaram, hoje eu consigo escrever aqui pra você. Literalmente, diretamente. É.
Bom te ver por aqui :)
De uma forma ou de outra, gosto de você perto de mim. Simples assim.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Liquisólidos d'alma e do céu. Tudo rosa e anil

E vou dormir com o céu transbordando rosa e anil
enquanto transbordam de mim os últimos acontecimentos
os beijos, os quase-beijos, os abraços e não-abraços
os lamentos; as amizades e os desarranjos lentos
transbordam e mancham o lençol com cores fortes
mas está tudo bem, claro e tal
pois me acariciam figuras mil
desejando força, trazendo calma
na cama, enquanto não adormeço,
muitas mãos em meus cabelos
tantas mãos que até me esqueço
Aqui uma valsa, ali um tropeço
E o céu transborda em mim mais um velho recomeço

sábado, 21 de setembro de 2013

Se acabarem com seu carnaval, você merece!

"Se acabarem com seu carnaval, você merece"*
Queria poder gritar em coro: vocês merecem! Mas minha humanidade - aquela que me faz destoar tanto de vocês - não me permite. Aliás, o termo humanidade é mesmo muito ingrato, afinal existem lobos, ou mesmo ariranhas e outros animais selvagens com muito mais compaixão e bom senso que certas criaturas humanas.
 É como se eu pudesse ver os defensores do "cadeia neles", "vagabundo bom é vagabundo morto", "Marco Feliciano me representa" e outras besteiras de igual ou pior nível lambendo suas próprias bolas em plena savana africana, com os mosquitos pairando ao redor. Mas não seria justo: os leões demonstram muito mais elegância no seu tempo livre. Afinal, um leão se lambendo no seu canto não faz mal a ninguém, ao contrário desses megafones de ódio que incomodam a evolução dos direitos com a bunda quente enfurnada no sofá.
Te contar...deviam mesmo é apertar a gravata até se enforcarem! Encurtar a jornada, chegar mais rápido no que acreditam ser "seu lugar", o "tão merecido descanso". Vocês merecem...E nós também!

* Comportamento Geral - Gonzaguinha

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Vai ficar tudo pra trás...

Engraçado como certas coisas se pontificam e ganham significados tão subjetivos.
Eu mudo em umas duas semanas desse apartamento. E no dia que essa porta fechar vai ficar pra trás tanta coisa, tanta memória, e também toda a minha expectativa do que um dia ainda podia acontecer.
Vai ficar pra trás a esperança de que você um dia toque a campainha de surpresa como tinha prometido. Na verdade, essa já está tão gasta, que nem sei se pode ter esse nome mais...
É, no dia em que eu fechar essa porta sem você ter nunca batido eu vou ter que aceitar a certeza que eu ainda não consegui engolir: eu perdi o meu melhor amigo.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Retrato-falado*: procura-se Fran.

Eu tenho um amigo que escreve muito bem.
Mas não bem como aquele seu amigo da faculdade que fez um bom artigo.
Não, esse meu amigo escreve poesia. Não! Seus dedos cospem poesia. Não, antes: seu coração.
Então, vamos de novo: eu tenho um amigo cujos dedos queimam e transbordam beleza - a bela e a triste - das coisas que ele vê e sente.
E ele, ainda que no dia a dia teatralize -bravo!-  acidez e desleixo, nada mais é que uma negativa da fotografia que de fato és: delicado e preciso.
De fato, não é de todo um teatro: pois pro ácido ou pro delicado; pra precisão ou pro desleixo, ele é agudo no jeito de ser, e menino. E não se engane, que esse é o maior dos elogios! Pois bem, ele é agudo: tem vértices da sua personalidade que se esticam no ar como coisa que só dele mesmo, ocupando os espaços com originalidade e elegância -como nessas fotos antigas de poetas loucos e felizes.
É, de fato, esse meu amigo é um poeta de fotografia - tanto na estética quanto na qualidade do que escreve, ele é desses que vão estar em livros lidos por quem sabe o que ler.
Não sei se me faço bem entender. Aliás, tenho quase certeza que não.
Pois esse é só um *retrato-falado: desses mal delineados, por um policial que ainda não tomou seu café. Ah, pois é, esse meu amigo será logo um procurado: vai pra longe, fazer suas estripulias e escrever suas constatações e ternurinhas além-mar. E nós que nos viremos pros lados de cá! Quem será o anfitrião da boemia? Quem vai elogiar a florzinha amarela que respira a madrugada colada ao concreto?
Mas se aqui eu só colo retalhos, é pra tecer algo mais adiante - algo menos chinfrim que caiba de mostrar a esse meu amigo na hora da saudade. Afinal, não dá pra ser qualquer bobagem: ele é conhecedor dos grandes poetas e cantores, sem sacanagem. Mas é de um deles, justamente, que diz "Onde menos vale mais", e disso meu amigo sabe bem: valoriza o simples, o ordinário, sem pesar neles julgamento, e faz das simplicidades verdadeiros monumentos.
Mas chega de balbucear nessas rimas porcas. Esse texto mal acabado, é só um retrato-falado, um tracejado interminado, mas que resolveu começar: a pintar uma figura, trejeitos de uma pessoa muito querida, que agora com mais calma eu vou tentar delinear.
É um embrulho de presente ainda sem laço. E o presente é invisível aos olhos.
Esse é só um esboço mal rabiscado, pra um poema que eu devo n'um guardanapo.

domingo, 25 de agosto de 2013

Panorama da vinda dos médicos cubanos ao Brasil: xenofobia, perseguição política e descaso da classe médica brasileira com a sua causa originária

  A polêmica diante da vinda de médicos cubanos para o Brasil através do programa Mais Médicos como solução mais imediata para a questão da saúde no país é assustadora. Assustadora não porquê não deveria ser um fato importante: é. É porque tivemos uma resposta concreta do governo federal aos manifestantes que saíram às ruas pedindo por investimentos na saúde (daí se é a resposta mais adequada, é outro ponto da discussão). É um fato importante, também, porque aproxima a vivência cubana de nós, permitindo uma troca de experiências riquíssima, absorvendo a cultura e o pensamento de um país de traços muito diferentes do que prepondera no país.
  Mas não, não foi isso que ganhou destaque. Pelo contrário, considero que é justamente a aproximação com o país comunista que deixou um pessoal (a famosa Direita, que assim não gosto de chamar, mas vou manter resumido por enquanto) com o pé atrás e que reagiu direcionando o ódio da população contra os cubanos. E como carro chefe das críticas, a classe médica, que tem tomado atitudes vergonhosas e que devem fazer com que todos nós questionemos o modelo de ensino da medicina no nosso país (o que já devia estar sendo feito a muito tempo). A mais notável dessas atitudes, e que muitíssimo me entristeceu e decepcionou, é o apoio às decisões do CRM-MG (Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais), protagonizadas pelo presidente João Batista Soares e suas declarações deploráveis, que colocam o Estado numa situação de vergonha internacional:
  • Incitou crime de omissão de socorro:
    "Vou orientar meus médicos a não socorrerem erros de cubanos"

    Diante da óbvia chuva de críticas à irresponsabilidade sem tamanho com a ética médica e qualquer valor humano que se tenha notícia, o presidente tentou consertar, sem sucesso, a fala, dando mais e mais má notas. (Vale aqui ler a entrevista da Viomundo*¹ ao presidente na íntegra)
  • Afirmou que vai intensificar fiscalização em cada canto que houver um médico cubano
    "Em todos os locais que a gente souber que tem médico cubano, nós vamos mandar a fiscalização"
    , afirmando que denunciará qualquer um que não tenha feito a revalidação do diploma 
  •  Equiparou os  profissionais cubanos a "charlatães e curandeiros"
    "Nós vamos denunciá-los [os cubanos] por exercício ilegal da medicina, da mesma forma que fazemos com charlatães e curadeiros."
    A Viomundo, diante dessa postura, reafirmou: "mais eles são médicos!", no que João Batista refutou: "mas não estão dentro da nossa legislação".
 O que vemos é uma sequência de absurdos: incitação à omissão de socorro e ao não-auxílio aos médicos cubanos, num país onde as condições precárias de atendimento público exigem o máximo de colaboração possível entre os profissionais da saúde. Xenofobia, num país onde a população é conhecida como receptiva e calorosa ao estrangeiro. Perseguição de caráter político-ideológico sob um infundado questionamento das habilidades de médicos devidamente formados -  ou melhor formados do que os nossos, diga-se de passagem (falo disso mais adiante).
  Pois bem, a inteção agora é dar algumas respostas às críticas direcionadas aos profissionais cubanos, e pretendo fazer isso pincelando meu texto com os depoimentos dos próprios: brasileiros formados em Cuba e médicos cubanos que deram o seu parecer acerca da formação médica que tiveram, afinal nada mais justo do que debater ouvindo quem tem bagagem e propriedade no assunto, né? Ou vamos nos deixar levar pelo discurso de ódio político-ideológico dos controladores da mídia tradicional - pra não falar dos outros mecanismos de controle da opinião pública que garantem o palco para políticos de última categoria?
Diante de tanto preconceito, jogo sujo e desumanidade, e eu peço desculpas antecipadas aos leitores pela rispidez. Dito isso, peço também que, ao longo da leitura, levem em consideração o lado HUMANO de vocês - que muitos que andam se manifestando por aí parecem ter perdido ao longo do caminho, bem como o senso crítico e a boa vontade de ver lados mais profundos da questão.

 Vamos começar pelos básicos:
 "Mas o problema da saúde no país não é a falta de médicos, mas de infraestrutura" - foi a crítica que brotou já no primeiro suspiro depois de anunciada a vinda dos médicos pela presidente Dilma Rousseff. Reclamar todo mundo quer, mas colaborar pra uma solução, não né?
  Primeiramente: problemas de infraestrutura demoram pra serem resolvidos, especialmente nesse país - isso não é novidade pra ninguém. Não estou dizendo que está certo como está, mas que medidas urgentes precisam ser tomadas enquanto soluções a longo prazo não chegam. Aí entra a vinda dos médicos cubanos, que mais que qualquer outro, estão preparados para condições adversas de atendimento:
"Natacha Sánchez, 44, que trabalhou em missões médicas na Nicarágua e na África, disse que os cubanos estão preparados para o trabalho em locais com 'condições críticas'", o que é reforçado pelo médico de família Nélson Rodriguez, que revela que a atuação profissional no Brasil será semelhante à realizada em países como Haiti e Venezuela, onde já trabalhou, com a vantagem de termos um sistema de saúde mais desenvolvido, o que torna melhora a prática médica.
 Em segundo lugar, vamos desconstruir essa falácia de que "o problema não é a falta de médicos", por favor? Que tem médico no Brasil, tem. E não é pouco não: tem é muito médico. Mas isso não é motivo de celebração como se pressupõe, porque médico pra ir para regiões pobres, com condições precárias, ou mesmo pro SUS ali, alguns bairros de distância, aí não tem. Esses lugares não condizem com o currículo ou a importância dos excelentíssimos doutores, não.
  É que por essas bandas a escolha pela medicina anda passando longe, muito longe do interessa na saúde das pessoas ou qualquer outra motivação nobre. Não, a maior motivação é claramente a grana, o status. Falo por experiência própria, de quem viu colegas de colégio e cursinho que eu já anotei os nomes numa lista de "quem não procurar se eu precisar de um médico no futuro", por simplesmente demonstrarem interesse infinitamente menor no benefício da profissão para a humanidade do que no ganho pessoal sem limites.
 E é aí que entra o grande diferencial dos cubanos:
 “Nós somos médicos por vocação e não por dinheiro. Trabalhamos porque nossa ajuda foi solicitada, e não por salário, nem no Brasil nem em nenhum lugar do mundo”, afirma o médico cubano Nélson, dando um banho de ética e compromisso com o ser humano, e abrindo as portas para discutirmos qual país é de fato despreparado para a medicina nessa história.

FORMAÇÃO CUBANA

"O curso de medicina cubano dura seis anos. Para estudantes de outros países, ele se inicia na Escola Latinoamericana de Medicina, localizada em Havana. Depois de um período inicial de dois anos, os estudantes são enviados para as diversas universidades do país. "
  •  Estrutura curricular muito próxima da brasileira, mas com mais carga prática no sistema de saúde público
“Um estudo do governo federal mostra a compatibilidade curricular dos cursos de medicina de 90% entre Brasil e Cuba. Então, não há grandes diferenças teóricas”, conta Andreia “Os dois primeiros anos trabalham com as ciências médicas. Estudamos fisiologia humana, anatomia humana e desde o primeiro ano temos contato com os postos de saúde. Quando somos distribuídos para as universidades, vivenciamos o sistema público de saúde. Comparado com o Brasil, o nível teórico é igual, mas o nível de prática é maior”, afirma Augusto.
- Augusto César (25) e Andreia Campigotto (28) são brasileiros formados em medicina pela Universidade de Camagüey, em cuba. Ele aguarda a revalidação do diploma para trabalhar em assentamentos na área rural brasileira e tratando Sem Terras; ela trabalha no sertão paraibano atendendo uma comunidade de 4 mil pessoas em uma unidade básica de saúde.
 A diferença maior está, na verdade, nos princípios que sustentam o ensino cubano: medicina preventiva e com formação humana - bem diferente do que vemos no Brasil:
“O curso brasileiro é voltado para as altas especialidades. Tem essa lógica de que você faz medicina, entra numa residência e se especializa. Já em Cuba o curso se volta à atenção primária de saúde, para entendermos a lógica de prevenção das doenças e o tratamento das enfermidades que as comunidades possam vir a ter”, diz Augusto. E continua:
"É mais barato fazer promoção e prevenção de saúde. No entanto, isso rompe com a ditadura do dinheiro."
É aquela prática famosa e anti-ética que todos nós sabemos que acontece: médicos pedindo exames desnecessários (e a grana vai pra alguém nessa história) e indicando medicamentos específicos porque fez acordo com a empresa X ou Y da indústria farmacêutica.
"Lá eles formam profissionais para tratar e cuidar com qualidade, humanismo e amor cada paciente; aprendemos de verdade a lidar com a saúde do ser humano”, analisa Andreia.
VALIDAÇÃO DAS HABILIDADES
  •  Os médicos cubanos seguirão a lei trabalhista de Cuba, segundo normas da OMS (Organização Mundia de Saúde), mas respondem ao Código Civil, Penal e Ético brasileiro.
    O Ministério da Saúde segue exatamente, nesse acordo com a Organização Panamericana de Saúde, o que a OMS estabelece para essas parcerias: tem que seguir as leis trabalhistas do País que faz a doação dos médicos e seguir o Código Civil, Penal e Ético do País que recebe os médicos. Então essa regra, está sendo seguida à risca, afirma o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
    "Segundo Padilha, esse tipo de acordo já foi fechado por Cuba com outros 58 países. O ministro afirmou que os médicos são experientes , mais de 80% têm mais de dez anos de profissão e que grande parte deles atuou no Haiti junto ao governo brasileiro."
     
  • Médicos cubanos passarão quase 1 mês em treinamento antes de iniciarem suas atividades
    O processo de treinamento ocorrerá em universidades federais e conta com preparação e aulas de saúde pública e língua portuguesa.
    Do tipo, eles já são profissionais formados e qualificados, mas ainda passarão por um processo de "polimento" quanto à especificidades do sistema de saúde brasileiro e quanto à língua, pra garantir uma comunicação eficiente.
  •  Foram liberados de fazerem o Revalida - exame de revalidação de diploma - para atuarem provisoriamente no país. Quão problemático é isso, de fato?
     Questiona-se a liberação dos médicos do programa do governo de revalidarem seus diplomas. Pra mim, esse questionamento tem duas origens: daqueles que utilizam a liberação como tentativa de desqualificar esses profissionais, e daqueles que precisam passar pelo teste e se sentem em desvantagem. Para esses últimos, nem gasto muita saliva: é muita mesquinharia. Pros primeiros, fica o meu questionamento: se o Revalida fosse critério essencial para definir competência, por que vocês não exigem do governo um exame que teste suas próprias habilidades também?
    E já adianto que "os critérios brasileiros já são observados para quem se formou no país" não é um argumento, pois se assim fosse , o julgamento do governo quanto à competência dos médicos cubanos estaria salvaguardado pelos mesmos princípios.
     Felizmente, essa postura de cercarem os cubanos de todos os questionamentos possíveis e imagináveis não é necessariamente majoritária: estrangeiros e brasileiros que se formam no exterior reconhecem a qualidade do ensino cubano, e muitos sequer se sentem incomodados com a dispensa da necessidade do Revalida para o Mais Médicos:
    "O ensino lá é muito competente. Hoje, com a globalização do conhecimento, o ensino está bastante uniformizado no mundo inteiro. Em Cuba ou aqui, as referências bibliográficas são basicamente as mesmas e, no caso das especialidades, há parâmetros internacionais", afirmou Daniel Martins, que se formou em Cuba há três anos e fez o teste de revalidação, e não acha necessário que os médicos do Mais Médicos passem pelo mesmo processo:
    "Acho que seria justo e que não haveria problemas em submetê-los à prova, mas é preciso lembrar que eles estão vindo em caráter emergencial. Não que este seja o melhor caminho para resolver o problema da saúde, mas, além de investimentos na infraestrutura e da criação de uma carreira [de Estado] para incentivar os médicos a irem para áreas de difícil acesso, eu acredito que são necessárias medidas emergenciais, pois há pessoas doentes precisando de atenção e é difícil encontrar quem queira ir para onde elas estão.", argumenta.*³
    Ainda a tempo:
    "Uma coisa é a revalidação dos diplomas. Outra é o programa federal. Se o País precisa de médicos, se há lugares onde não há profissionais, eu não vejo nenhuma injustiça nisso. Não creio que seja a solução, mas é uma iniciativa correta, em vista do caráter emergencial. Se formos falar de prova, aqui ninguém que se forma faz um exame para ver se de fato está apto a trabalhar. Ao contrário do que acontece em Cuba, onde todos têm que fazer um exame de ordem.", diz ao R7 Luiz Fernando Bispo, também brasileiro formado em Cuba que retornou para o Brasil.
     Bispo me contempla em gênero, número e grau!
     Percebam a diferença: uma coisa é testar se pessoas vindas do estrangeiro (o que aglutina todos os sistemas de ensino existentes no mundo, dos quais nem todos são conhecidos) de fato são formadas e tem ensino que as tornam aptas a trabalhar como médicos no Brasil. Outra é trazer, em caráter emergencial, médicos de um país conhecido como um dos melhores em formação médica no mundo, com a especificidade de ser uma atuação temporária. Caso o médico cubano opte por continuar no país depois de três anos, terá que passar pela revalidação do diploma como todo outro profissional do estrangeiro.
     Agora, me soa muito engraçado - pra não falar deprimente - que se questione a qualidade dos profissionais cubanos antes mesmo da sua chegada, demonstrando um puta preconceito e muita hipocrisia, já que não está sendo questionada a qualidade dos nossos próprios médicos.  Que tal olharmos um pouco mais pro próprio umbigo?
    Enfim: por que a revalidação de diploma é um quesito tão importante para legitimar um profissional cubano, se no Brasil temos centenas de escolas de medicina de última qualidade, que nascem para atender à demanda comercial por vagas e formam alunos que não passam por qualquer teste de aptidão (diga-se de passagem, dentre os quais muitos são daquele perfil deplorável que eu comentei bem no início da conversa)? Em Cuba existe um exame de ordem, que tal isso?
 Uma coisa está clara: o Brasil tem muito ainda o que aprender com Cuba no que diz respeito à valores acerca da vivência, comportamento e relacionamento humano. E olha que eu nem entrei nos princípios esquerdistas aqui, o que merece todo um novo texto. Por enquanto me limito a acenar que esse repúdio que estão tentando introjetar na sociedade brasileira contra os cubanos tem cheiro de bloqueio político-ideológico, que uma sociedade teoricamente democrática não pode admitir; e que mentes pensantes não alimentarão. Agora, se há toda essa preocupação, o medo não é infundado: imagine só, os brasileiros tendo contato com uma nova perspectiva de mundo, onde o dinheiro não é o centro que guia as relações, onde as decisões politico-econômicas estão atreladas por uma lógica que não perpassa o capitalismo e seus malefícios às questões sociais?
 É um alívio em meio à tanta hipocrisia e tanto discurso não só comodista, mas reacionário. Um sorriso de esperança por essa experiência que será possível e por novos tempos que estão por vir nesse mundo novo que o século XXI inaugura.

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Fontes:
*¹: Entrevista da Viomundo à João Batista Soares | http://www.viomundo.com.br/denuncias/presidente-do-crmmg-disse-vou-orientar-meus-medicos-a-nao-socorrerem-erros-de-medicos-cubanos.html

*²: Pragmatismo Político | http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/08/brasileiros-formados-em-cuba-destacam-rompimento-com-a-ditadura-do-dinheiro.html | http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/08/medicos-cubanos-brasil-viemos-solidariedade-nao-dinheiro.html
*³: R7 | http://noticias.r7.com/saude/medicos-cubanos-seguirao-as-leis-trabalhistas-de-cuba-diz-ministro-da-saude-23082013 | http://noticias.r7.com/saude/medicos-que-fazem-o-revalida-em-brasilia-comentam-as-polemicas-sobre-a-prova-e-vinda-de-estrangeiros-25082013

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

esse amor agora manco
tem história natimorta
a boca pedindo morango
no coração, sabor de amora

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Verme da maçã

Cê fica me olhando assim meio de banda, e eu com minha força bamba pagando de bacana.
Bah, se enganando a gente se esgana. Na real?
Quero comer esses seus olhos com torrada no café da manhã.
Verme da maçã.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Aff.

Disputa de egos é uma das coisas mais contra-produtivas que eu já conheci.
Sério mesmo.
E pro meu azar, é onde eu tenho tendência/prazer (honestamente, já não sei mais qual) de atuar que ela está mais presente.

sábado, 27 de julho de 2013

Contemplação - de altas!

Fiquei reparando no tanto de melosidades que tem por aqui nos últimos posts.
Engraçado, porque até o dado momento não é isso que tem imperado na minha vida.
Tem imperado a ação, a dúvida, o caos, a mudança, a esperança, o desgaste - todas as forças indomináveis da revolução. O amor inclusive, mas não nessa forma melancólica nem em nenhuma forma por demais intensa - o amor andou leve, andou se acertando, andou parando e acalmando seus processos.

É, o que tem dominado os meus dias, me engolido por inteira, revirado minha cabeça e cansado meus pés, é a tal revolução. E dela nada escrevi.
E se assim foi, acredito que é porque há tanto, tanto tanto a se dizer sobre, que não cabem ainda em palavras. Não conseguiria continuar uma frase bem elaborada sequer sobre o assunto, porque dependeria de adjetivá-lo, e isso ainda não consigo fazer com propriedade, com a devida destreza, com suficiente astúcia pra honrar o que foi e tem sido esses movimentos no país e nas cidades.


Não vou falar, portanto, da revolução. O silêncio que fica nos próximos espaços é do olhar atento - chocado mas esperançoso; da boca silente que prefere dar espaço pros novos acontecimentos antes de rasgar no tempo essa oportunidade com comentários; do corpo bombardeado de energias mil, pelo vão do novo futuro que se abre - e que ainda não está pronto. O silêncio que fica é a moldura para um quadro ainda em construção.

Deixa estar

O que fazes aí parado, admirando o que já não é seu?
O que fazes você sozinho, sem saber se segue ou abandona o caminho?
O que fazes aí deitado, imaginando se ela vive ou já morreu?

O que fazes aí num canto, rezando pra tudo quanto é santo?
O que fazes aí, em pranto?

O que fazes você se desperdiçando de bar em bar, sem um lar pro qual voltar?
O que fazes você doente, sem pernas pra que te esquente?
O que tens pra reclamar, se sabes que és um moribundo que mente?
Que diz estar bem, melhor só que com atrapalhado alguém, quem acreditas enganar?

O que fazes você tão triste, que direito tens?
É o destino que escolheu, foi a sua sentença pessoal
Não houve sim nem não, não houve discussão,
Só sua solitária palavra final.

E agora vai dizer que queria diferente, que esperava vir melhor gente
pra aturar seu amor com lamúrios intermitentes?
Ah, faz o favor! Saia da frente!
É triste ver projeto tão incompetente!
É bem verdade, minhas rimas são porcas,
são só desculpa pra rogar minha praga.
É bem verdade, nossas linhas são tortas,
pra combinar com nossa carne fraca.
É bem verdade, meu bem,
também não encontrei - ainda - ninguém
Então, o que fazemos nós dois assim,
você pra você e eu pra mim,
se nos sabemos criaturas errantes, voláteis amantes?
Quão céticos fomos,
merecedores de um pouco mais de sorte?
Quão impacientes fomos,
pra não ver brotar as flores no norte,
de não esperar brotar a semente,
de não dar tempo pro tempo se acostumar com a gente.

Ah amor, e agora como fica
o que ficou
debaixo do tapete, varrido

Como fazemos pra matar a sede
do muito de nós que podia ter sido
se nossos muitos nós não tivessem nos impedido?

Abra um vinho pra nós, meu bem
vamos papear sobre a nossa história
desembuchar, sem cordialidades, a memória

sem lamentos ou pretensões
gargalhar das nossas imperfeições
da nossa falta de destreza
vamos nos embriagar debaixo da mesa

e lá suspirar sem fôlego, sem ar
e sairmos de acordo
que isso tudo veio pra ficar;
que o que foi, sempre será
de novo do jeito que já foi um dia
E se o álcool me fez citar Lulu Santos,
mas que coisa mais chinfrim!
- você vai rir e zombar de mim,
como fazem os bons amigos.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

_

Eu sinto falta do meu melhor amigo.
E aqui não é o lugar pra falar isso, eu acho.
Mas acontece que não há mais lugar.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

No silêncio da noite

Quão individuais somos? Quão só nós ainda existe?
Nessa emaranhar de ideias, desejos e contatos acreditamos estarmos juntos.
Nesse turbilhão de reuniões e protestos e ocupações e comissões e funções, acreditarmos fazer parte de alguma unidade.
Qualoquê: voltamos sós. Carentes de um conjunto que quiçá nem existiu, será?
Caminhamos como álcoolicos anônimos retornando pra casa sem saber de fato o que foi aquilo e o que será depois, se agarrando na esperança da promessa.
Então, me responde: onde acabam nossas pontes?
Onde não fazemos parte de nenhum todo, de nenhuma grande movimentação comum ou mesmo simples laços de afeição?
Dissolvemos uns dos outros qual como a nuvem  negra soprada rápida do cigarro.
E quando tudo já parece finito, algo permanece diluído.
O que é, não sei. Ouso chutar que é a cara pálida da esperança nos encarando - e perguntando: até quando?

quanta....quanto...canto. pra além do meu desencanto.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Quem não se sabe gente, que não admite ser vivo e imperfeito e viajante constante; quem tá na pressa por ter um lugar de prestígio nessa ordem paternalista-capitalista, exigindo de si o que os de fora exigem; os que não sabem apreciar os pequenos agrados e grandes satisfações da vida no passar pela avenida, nos sóis da esquina, no papo do bar; quem me vê "na fila do pão, lendo um jornal", não sabe como é, nem imagina que eu estou dançando com meu pijama largo do mickey às 7:03 da manhã pela casa. Só porquê estou feliz. Alegria é sorte, felicidade é profissão, dessas que nem a que eu quero: que não exigem currículo; que se sabem válidas e essenciais pelo próprio seguir da vida. Vou dormir como nunca antes, vou sorrir com músculos novos, que se deram só pra acompanharem a paz de "descobrir o que se é e ser".
Viver.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Estranha(ma)ndo

Que coisa mais estranha, é essa de amar sem perceber - de repente, taí, e não se sabe mais o que fazer com tanto sentimento!
Que coisa mais estranha é também amar sem ser notado - você, ou o amor. Faz você até duvidar se é pela relação que não se deu ou pelo seu orgulho que morreu, todo esse lamento.
Que estranho é agir como que na presença do outro, sabendo que o outro não está nem vai chegar. Acariciamos com as mãos lugares cujos antigos donos estão ausentes, mantemos diálogos mentalmente, sorrimos em direções onde não se vê alma correspondente  - que bobagem! mas deixe estar... Qualquer artifício pra falta passar devagar...
Mais estranho, tenho de admitir, é não se satisfazer com menos do que merece,mas desejar qualquer pouco daquele, que apetece.
Ques coisas estranhas o amor sugere. Por que causas pequenas o amor desfalece...
Que coisa mais injusta, o amor descompassado, parece que se perdeu no tempo, que ocupou o lugar errado; mas que nada, ele tá aí, andando a ermo, cansado...
Que pouca sorte a nossa, o nosso amor não ter se encontrado, ter ido, sem melhor clareza, cada um pro seu lado.
Mas dizem que não tem erro, que tudo acontece quando é pra acontecer. Engraçado... se for assim, meu amor não acerta no jeito de ser.

terça-feira, 28 de maio de 2013

AmorA

amor é rápido,
amor se embola
amor é agora.

amor é lento,
amor amola
amor demora.

amor levanta,
amor, simbora!
amor é a hora.

amor é forte
amor não cansa
amor, se importe

amor é fraco,
amor descansa,
amor explode.

amor é agora, amor demora, amor amora.
amor, já é hora
amor, se importe; amor, explode!

amor é sempre,
amar é sorte.

amar é verbo,
amor é norte.


amar é sorte, amar é verbo,
amor é sempre, amor é norte
amor é vida; amar, a morte!
amor, não passe agora
amor, amora.

amor aumenta,
amor disfarça
amor alimenta,
amor engasga.

amor descasca
ou cria carcaça
amor renova,
e amor desgasta.

amor respira
amor sufoca
amor odeia
amor adora
amor renasce,
toda hora
amor, amora.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Keepsake

Os olhos parecem tão fixos, mas você sabe que treme, ali bem discreto, tentando disfarçar. Você sabe que a pálpebra faz força pra não se entregar. Olhos outros, fixamente iriam olhar. Olhar descarado, sem satisfação pra dar.
Um sorri despretensioso, o outro pretende forçar. Um tem os olhos honestos, o outro, do fundo do mar.
Um faz que pode, que é rei, o outro quer que se foda toda lei.
Um se abre até não ter mais tamanho, o outro engole seu pranto.
São tão fortes e frágeis criaturas, mas bem sabemos, ali não tem nenhum santo.
Tudo e nada que sei. Um, dois, um meio, número torto e gauche que já amei.

Por trás

Escreve, escreve, escreve, Ninha, como se o mundo - há! - fosse te responder.
O silêncio mais sincero, ecoa e você não sabe porquê.
Você tem tanto a falar, ninguém vai retrucar você.
Se fala que é Ana, o povo assusta. Se fala que ama, mais ainda.
Escreve, escreve, escreve, queima as pontas das mãos, deixa a faísca arder no canto frágil do coração.
Pode chorar Ana, que ninguém vai saber. Pode chorar Ana, ninguém conhece você.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Casa de espelhos

Do escuro ergue-se uma casa de espelhos de múltiplos reflexos. Várias de mim, vários deles, multiplicando-se caleidoscópicamente. Coloridos e em preto-e-branco, altos e baixos, eles brotam de todos os lados, passam pelas brechas, ocupam o espaço vertiginosamente rostos demais, papo demais! quantos já são? onde estava? tontos e bobos estamos todos, eu e vocês e no final, cá estou, estou só eu, são apenas reflexos, reflexos dos eus que deixo escapar e vaguear por aí tão soltos e sonsos. Cansada de virar a vista e o corpo, decaio sobre minha cama e aproveito – meio-dúvida, meio-alívio a desaparição das imagens; de um escuro para outro, respiro.

Senhores moços rapazes velhos e crianças: apresento a vocês, a minha sina. Que o circo comece. Mais uma vez.

Desejou os braços frios, os braços brancos saudade do que nunca teve, teve em parte: incompleto, despreparado, fosse de sentimento ou de saber lidar com eles, crianças confusas. Sentiu o hálito fresco, fantasmagórico hálito do passado soprando na nuca, ah, e como os desejou também! acronológica tragédia, querer transportar-se no tempo para uma realidade não de toda real, talvez mais de pouca, idílica, talvez... Os dedos se contorceram a procura dos outros pra enrolar, e na falta rasgaram os lençóis, perfuraram o colchão em agonia e vontade. Vontades, vontades, tão pueris; desejos tão adolescentes, desejos já tão maduros para se darem ao luxo de serem inconsequentes... Mas o que seriam, se assim não o fossem? Desejos amadurecidos são como senhores em crise de meia-idade, só que menos covardes, mais virtuais. Mais bonitos. Mais perigosos.

Amarga doce reinvenção


Alguém vai e resolve fazer a Noite estrelada em bala de goma. Bom gosto a parte, vocês tem algo em comum, afinal, é isso mesmo, foi assim pra você também: uma brincadeira. Não foi? Pena foi, que você reinventou e abandonou. Belo artista, você é. Sem ironia.

É, em algum momento ía chegar uma amargura maldisposta, uma reclamação pra ecoar confusa,  que só se sabe sem lugar.

sábado, 30 de março de 2013

Cidade-fantasma. Está tudo vazio, o povo sumiu. Os sentimentos que sobraram pairam no ar junto às partículas de poeira que brilham contra o sol que tem pressa de descer e confirmar as paredes geladas das fachadas descoradas. O bloco do eu sozinho vê da janela a cidade-fantasma fosforescer nessa paz estranha, nesse tom de cansaço sublime, nesse desbotar devagar, nessa continuidade de acabar.  E dali do parapeito brotam vontades-fantasma, que invadem sorrateiramente o peito, inflam-o, e o instinto é segurá-lo pra que não voe ao céu como balão. Um balão azul vagando pela cidade-fantasma... Um pouco de cor no mundo monocromático, que chance teria? Vontades-fantasma infestam a alma de esperança natimorta. Do parapeito tudo se vê do pouco que restou. Da cidade-fantasma feita pra desvanecer.

C'mon life you bastard beauty

Don't give up, man. You feel like quitting, and I get it: it's bigger dude, bigger than you, I know, but that's the thing, the magical thing! Life is way bigger than what you've seen. So no matter how much you have seen things, expanded your mind; no matter how much you've travelled, no matter how much you've suffered - of injuries, or love, or both - or done stuff, there are still so much to experience, there are several and unexpected ways your life can take; there are endless possibilites waiting for your next step - and that's everything!
And in the end, we all speak the same language.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Paco

All the disney folks are running and dancing and laughing in the forest in the wall
That's how you know you're espectaculary and awkwardly fine.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A casa aberta

Eu quero ter uma casa acolhedora. Dessas que as pessoas podem entrar com pouca licença quando precisarem, pra sorrir ou pra chorar, pra aquietar a alma ou sentí-la vibrar mais forte, com mais cor.
  Vai ter então uma sala com chão de madeira, pra que quando você pise, aceite suas dúvidas e aflições como algo natural. Vou escolher uma cortina azul-claro, que é pra dar esperança, com uma vista prum jardim bem verde, com algumas poucas coisas plantadas, como rabanetes. Vai ter um divã pequeno, macio e colorido bem embaixo da janela da cortina, pra você poder se sentar sem se sentir sozinho; pra você se sentir inteiro.
  A cozinha vai ser projetada pra que entre luz indireta em cima da bancada e da mesa, e haverá pequenas decorações e ladrilhos coloridos, como se você estivesse na casa da sua avó, com aquele cheiro de biscoito feito pra criança se sentir criança e adulto se dar ao luxo de se cobrar menos. Se tiver mais pessoas por lá, você pode cair numa conversa boa, rir enquanto o sol abaixa no céu e some da vista da porta do jardim, se precisar você pode até fazer que riam de mim. E vai ter sempre café, que é pra preencher o espaço do que faltar, afinal é isso mesmo: things usually gets better with some coffee and some love... E se quiser se deitar, esquecer do mundo, ou então sonhar acordado, vai ter quarto, ali no segundo andar, com lençóis claros e cobertores felpudos, "daqueles de hotel", como todo mundo gosta de dizer e poder aproveitar.
  No banheiro, pode deixar que eu fiz umas economias pra colocar uma banheira, não é chique, mas é do tamanho e jeito pra relaxar, com direito a janela fosca pro sol e pro vento entrar. E tem espelho, isso tem mesmo, não adianta nem querer ignorar, porque por maior que seja a paz de mergulhar-se em um retiro, a realidade tá sempre aí, pra gente olhar; e isso faz parte, é onde as coisas escontram sentido de ser, sem muito sentido aparente, entende? É a realidade que nós percebemos - existente ou não, completa ou fragmentada, desvirtuada ou em bom tom- que cria as experiências e oportunidades, que constrói a renda da vida e, portanto, do que não-acontece - nossos pensamentos, desejos, dúvidas, sonhos, inventividades e opiniões - em paralelo: é ela o plano onde pode a coisa se dar, aparecer e continuar, de um dia morrer ou renascer; é ela que costura, com essa fina e forte agulha do presente, o passado e o futuro, e faz dos seus deletérios a emenda consciente.
  Pois bem, nessa casa vai entrar e sair gente num cômodo ou em outro sem ter que dar satisfação, sem ter que se explicar ou preocupar com tirar o abajour ou o móvel do lugar. Não vai ter regra nem condição, só use-a como se fosse sua para o que lhe servir de bom. Eu não vou me incomodar não, pode deixar, que pra mim também é um aprendizado enorme, esse livre deixar. Pode sentir-se à vontade para provocar ou cessar emoção. Essa casa vai ser a cópia do meu coração.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Que rolem os olhos dos santos...

Com a saúde meio capenga - mas de nível comparativamente irrisório para que eu possa ter a arrogância de reclamar -, adoro quando me prescrevem remédios cuja receita "não é olho de santo". Sabe, desses que você toma umas x ou y vezes, preferivelmente durante o dia, mas se for de madrugada, não tem problema, e se pulou um dia, compensa no outro e sua mãe diz, da mesma forma que sua avó dizia: "tudo bem, não é olho de santo".
  Isso de regra demais é complicado pra minha mente libertária, pro meu espírito sem muitas amarras. Falta-me disciplina pra tomar remédio na hora certinha, pra comer e dormir na hora saudável, amar quando é apropriado. Não cabe em mim  responder honestamente ao que penso somente quando é confortável para os egoístas e para os de barreiras sensíveis. Não conseguirei estar sempre disponível, nem posso - como é da natureza dos seres que evoluem - estar sempre certa. Não me é natural obedecer militarmente à positividade, tem que saber por o pé no chão às (muitas) vezes; mas também não vou me render quando a tv ou as pessoas na sala de jantar doutrinarem contrariamente aos meus sonhos.
  É que eu não sou olho de santo. E a vida também não é, rapaz: não tem regra, coisa certa, não tem fórmula pronta. Ainda bem! E o mundo tá nessa contramão absurda, de querer impor regras pra tudo, calorias por dia, etiquetagem, tempo pra diversão, limite pro que vem de dentro e quer sair, moralidade engessante... E mundo de bula, isso não é mundo pra se viver não!
  Meu coração é libertino; eu não sou olho de santo. E convenhamos, que santo se fosse santo mesmo, prezava é pela liberdade de poder ser sem restrições. Seria benevolente, esse tal santo, se permitisse ou criasse as condições para exaltarmos nossas capacidades e atributos e incapacidades, que são fugazes e diferente disso não conseguem prosseguir com sua existência indefinida. Santidade se veria se pudéssemos agir em concordância com nossa natureza própria; viver cada um do jeito que caber ao seu espírito que é único, e que portanto nao admite ser engessado pela moralidade e pela tradição.
   Fica, então, declarado: rasguem a bula; furem os olhos desses santos que não existem!

Pílula de ode ao órgão pulsante

É muito amor, é muito amor queimando aqui.. E isso não é lamentação, não; bem pelo contrário, é uma tranquilidade, um oásis puro dentro do redemoinhar que é amar. Saber que não importa quantas vezes você já teve decepções corroendo os cantos do coração, você ainda é capaz de aceitar novos hóspedes - inclusive, talvez tão remendados quanto você, e que por isso, entendem, e cuidam com mais sabedoria dessa casa que os acolheu.
 Então, é muito amor, não por ser demasiado; intenso em desmedida, mas por se mostrar até então inesgotável - se esgotará um dia, esse dia ainda não chegou - diante das maldades do mundo e do descuido das pessoas. Nesse coração ainda corre sangue novo, maduro na sua primitividade de estar acima das destruições egoístas, dos racionalismos capitalizados, das delusões da mente humana desacostumada a parar para concentrar-se em si e desenvolver-se diante do mundo que se mostra aí, desafiando-nos.
  Então é um orgulho quente, esse: o extraordinário órgão pulsando sem secar com as amarguras da vida. Às vezes, bem sei eu e bem sabe você também, se concentra num só; por outras, é difuso, mas de uma forma ou de outra, esse amor maior está aqui, monumental na sua humildade e honestidade. Esse fenômeno insólito que transcende às barreiras do tempo, da dor, das decepções, daquilo que foi banal ou rápido demais. É, o tempo traz a aceitação, e juntos eles formam um belíssimo casal. Que às vezes se separam, como é normal. Mas verdade seja dita, que nem esses nem ninguém devem andar sempre sozinhos, afinal.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Do acúmulo mais espetacular que eu pude sentir em tempos sem precedentes

Precisava de paz e um pouco de descanso das teorias do Estado, e agora não há prova que me desespere, se eu tiver que repetir que seja, não há preocupação que não se dissipe; não há sentimento que eu não admita sentir, não há pressa pra nada, e há intensidade pra tudo...os dedos até tremem: nunca estive mais certa de que tentaria escrever um texto que sairá necessariamente incompleto e sem barreiras lógicas ou qualquer coisa enfim.
E a noite é realmente dos notívagos, as almas da noite namoram com as reflexões que o escuro trás, e a gente se sente em paz, em casa.
De repente eu vou largar tudo e ser atriz, de repente eu vou ficar, mas eu sei que sou feliz. E é tão bobo e simples isso, "felicidade é só questão de ser" é a mais pura verdade-clichê. E eu vi gente dançando nos pátios dos prédios e subindo aos céus... E eu sei que tá tudo bem, que eu tô no meu caminho, e se ele mudar inteiro - "ter meus pés n'outro chão" - também estarei bem, que estou honesta comigo mesma no maximo que já pude experimentar, e segura do destino e dos demais desconhecidos que vou encarar na vida... "Onde eu piso e minh'alma toca".
Não caberá aqui nem metade, nem um décimo, mas tão somente uma poeira dos pensamentos que fluíram tão certos e tão cheios agora a pouco, contemplando a pequenez e a enormidade da vida da minha janela.
Foi  livre, meditativo, expansivo, transcendental...
E foi o cigarro mais bem aproveitado de toda a minha vida, até agora.
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Músicas que agora tem uma significância outra, que resguardam esse momento que eu desejo voltar - renovado, diferente, mas com o mesmo teor - de novo, e de novo:
Quem Ouvirá - Pitanga em Pé de Amora
Insensatez - Graveola
Aquela Melodia - Falamansa
E é simples assim. Só não me distrair, pra distrair em mim...

sábado, 12 de janeiro de 2013

Do amor, da incerteza e do desatino do amor

  Tenho amigos que dizem nunca ter amado. Não aquele amor entre familiares, ou amor fraternal entre amigos, ou mesmo o objetivo maior do espírito de amar desconhecidos por reconhecer que eles também querem se ver livres do sofrimento e serem felizes. Digo aqui do amor entre amantes, daqueles que brotam da paixão que fica morna, que às vezes até solta faíscas; que nunca cessa o seu calor. Porque amor, até onde eu pude ver com o meu espírito jovem, não morre nunca. Pode até mudar de forma, mas é uma das únicas coisas que considero poder ser eterna.
  Então, conheço gente que lamenta nunca ter amado na vida.  Às vezes penso que eles têm sorte. Claro, nunca amar na vida, aí não, que isso seria falta de humanidade - "pesado", mas talvez seja verdade. Agora, temos a vida inteira pra amar, e cair no azar de começar tão novos como somos, tão inexperientes e pouco sábios que somos pra lidar com o peso de amar alguém... Mas penso também que melhor agora, cedo, afinal o coração jovem é muito mais corajoso, mais ousado, e por natureza arde muito mais em reação ao mundo que nos é apresentado, do qual sabemos tão pouco e já nos maravilha e confunde tanto. Melhor agora, que experimentar e errar é mais normal, mais aceitável - se é que podemos pensar assim - e talvez menos nocivo (mas só talvez).
  Esse vai e volta de quando se deve começar a amar talvez não termine em conclusão nenhuma, assim como a maioria das questões que envolvem o amor. Afinal, quem realmente sabe como ele funciona? Se soubéssemos, tudo seria muito diferente, não seria? É, de repente é pro bem: se soubéssemos bem, talvez nem amaríamos ninguém. Se entendessemos a lógica ou a deslógica dos sentimentos, poderíamos estragá-los e desvirtuá-los como é de praxe do homem fazer com o que domina. E isso é certo: o amor não é pra ser dominado, seria contra a sua natureza. Entender o amor é matar o amor.