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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Impressões... um tempo meu.

  Passado o segundo consultório do dia, era decidir pra onde ir mais uma vez. Estou tentando confrontar essa indecisão que mora dentro de mim sem propósito. Quando as opções são muitas, acabo por não escolher, firme assim. Dito isso, peguei o ônibus que me possibilitava três destinos diferentes. Pareceu certo, afinal o timing foi perfeito. Me refiro ao fato dele ter passado bem quando botei os pés na avenida, depois de uma volta aleatória pelo quarteirão falando ao telefone. Dei sinal e subi.
 Dentro do tal 9206 pensei que se enquanto pensasse, um dos pontos passasse, passou, fica pra outro dia. Mas ainda desgastava o papel amarelo amassado na mão. O rapaz sentado ao meu lado fazia tempo já estava encarando minhas mãos apertando o papel dobrado e os meus olhos analisando os escritos à caneta azul. Ele também deve ter percebido minha indecisão, que nos olhos deles ganharam certa importância, como se meus pensamentos, longes como estavam, estivessem deliberando questões merecedoras de grande consideração. Aí me achei meio boba, toda a erupção mental só porque não sabia onde descer. Podia ter iniciado um assunto com o rapaz, parecia simpático, e estranhamente interessado nos meus pensamentos. Preferi manter o objeto de interesse dele vivo, e permaneci em silêncio observando as ruas, ao som de Desde que o samba é samba, Caetano e Gilberto Gil. De repente reconheci o cruzamento das avenidas Alvares Cabral e Augusto de Lima. Perdida como sou, foi um salto: dei sinal e desci. É que a gente sempre vê tanta gente deixando tanta coisa pro outro dia, né... Não eu!
 A exposição ficava na rua da Bahia, na esquina segundo meu papelzinho amarelo orientava. No caminho deparei com uma Araújo, aproveitei pra dar satisfações da receita médica e comprei também umas balas, daquelas de gelatina e um tic-tac, automaticamente.
  Atravessei a avenida lotada e estava na frente do Centro de Cultura de Belo Horizonte. Antigo, lindo. Uma estrutura anos 20 demais pra ficar na frente daquele prédio moderno cheio de janelinhas. Um contraste e tanto. Tirei uma foto ridiculamente ruim do meu Nokia 2630. Desejei uma câmera profissional por alguns segundos. Voltaria pra tirar a merecida foto com toda a certeza. De qualquer forma, fica uma imagem da internet pra não perder a vista da memória:


  Subi as escadas trêmulas de madeira. Elas se erguiam pelas laterais, pareciam ter ostentado todo o luxo de uma época já morta... O que se comprova pelo fato do lugar ter abrigado no passado o Conselho Deliberativo (a Câmara Municipal), a Biblioteca Municipal, além da primeira rádio da cidade - a Rádio Mineira - da Escola de Arquitetura da UFMG,  do Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães e por fim o Museu da Força Expedicionária Brasileira. Claro que colei, não decoraria tantos nomes nunca na vida, sabia apenas a respeito do Conselho, mas já era suficiente pra eu imaginar toda a sociedade política da cidade reunida com suas luvas e fraques no salão lotado e iluminado. A madeira estalava debaixo dos meus pés, e a escada ia ficando pra trás.
  No segundo andar um texto introdutório da exposição: Ao alcance do olhar - Silêncio e ruídos da cidade. Nas laterais umas poucas fotografias do centro da cidade. Foi no centro do cômodo que gastei meus minutos: Um equipamento audio-visual destacando o ritmo louco dos transeuntes das ruas da cidade. Uma tela com três textos em coluna, carregando a ideia de que os centros são contraditoriamente cheios e vazios, coletivos e singulares. E no meio o que de fato consolidou minha satisfação em ter decidido parar ali nuam terça feira às cinco da tarde: pequenos cubos ligados uns aos outros, com uma ou duas imagens e um texto cada. Fernando Sabino, Nietzsche - como todo lugar que reúne pensamentos filosóficos-sociológicos que se preze - Cecília Meireles, João do Rio, Walter Benjamin. Os dois últimos cujos textos me envolveram completamente, e que vou reproduzir num post seguinte (pois esse já tomou proporções grandes demais).
 Do outro lado, duas telas ligadas a fones de ouvido: uma com as impressões de passantes sobre o centro da cidade, sobre como o ritmo frenético da cidade homogeiniza os transeuntes, silencia a individualidade, não há sorrisos ou olho-no-olho, só um mutirão de pessoas ocupadas com seus barulhos mentais. Na outra tela imagens e sons tornavam os hipercentros e a natureza em si sinônimos e antônimos. Uma analogia oposta. O som das matas e a imagem dos troncos; o barulho de pedaços plásticos batendo num poste. O barulho de gotas d`'agua, seguidos da imagem de poças no chão asfaltado do centro. E ao mesmo tempo que eu esquecia do mundo conturbado lá de fora, o chão do edifício tremia com a passagem dos ônibus lá na rua. Meus pés vibravam na madeira velha e vivida.
 E imagens dos tais prédios grandes e de pequenas janelinhas, aqueles que eu vi do lado de fora, com uma ou duas pessoas encostadas na beirada do vidro observando o movimento, umas janelas tampadas com jornal, outras das quais pode-se notar objetos de metal abandonados... Na frente do ponto de ônibus mesmo, um desses prédios capturou minha atenção: em uma das janelinhas uma bandeira do brasil dançava com o vento - se bem que aquela não parecia saber bem dançar, mas tentava se mostrar da forma como conseguia, assim meio torta. Num ambiente como aquele, pobre e estagnado, onde até o sol tinha preguiça de disfarçar o repouso, alguém ostentando orgulho por essa pátria desorganizada, por esse Brasil imaturo. Parece tão certo que o dia-a-dia para o dono-da-bandeira é suado e sem muita evolução... E ainda assim persiste a esperança.

 30 de Novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

You've got that thing of yours

"Ele me comia, com aqueles olhos de comer fotografia...
Eu disse X, e de close em close fui perdendo a pose até sorrir feliz..."

You've got that thing of yours, that makes me wanna take my clothes off.

9 de Novembro de 2010

Sobre tanta falta



Falta tanta coisa na minha janela, como uma praia
Falta tanta coisa na memória como o resto dela...
Falta tanto tempo no relógio quanto uma semana

Sobra tanta falta de paciência que me desespero
Sobram tantas meias-verdades que guardo pra mim mesmo
Sobram tantos medos que nem me protejo mais
Sobra tanto espaço dentro do abraço que nunca consigo

Sei lá, se o que me deu foi dado
Sei lá, se o que me deu já é meu
Sei lá, se o que me deu foi dado ou se é seu...
Se o que me deu , quem sabe?

Vai saber, quem souber me salve
Vai saber, o que me deu, quem sabe?
Vai saber, quem souber me salve...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dois cigarros me separam daquele passado nem tão longe assim. Uma liberdade estranha. Um gole de coragem. Uma olhada pra baixo, e estão ali todas as lembranças de você. Uma música no fundo. "Faço as pazes lembrando, passo as tardes tentando lhe telefonar..."
Eu te peço bem. E aí sei que estou bem.
- Setembro de 2010?