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É preciso estar atento e forte: a má notícia é que as coisas mudam. Calma, a boa notícia é que as coisas mudam.
No meio disso tudo, eu escrevo...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Fada verde

Dei um gole rápido, o que já foi o suficiente para que o mundo a minha volta rodasse.
Me pegou desprevenida, ainda que cultivasse em mim a certeza de que voltaria a experimentar do veneno verde.
Dei o gole que me ofereceram, falei sério e falei rindo, dancei e deixei dançar, e parti em paz.
Era o cenário envolto de microbolhas que se desintegravam no ar, pouco a pouco. Meu carnaval se dissolvia diante de mim como um comprimido de vitamina C.
Pois bem, mal começaram a dissipar de meu sangue as primeiras gotas verdejantes, e meu espírito já se pôs pronto para contorcer, buscando agarrá-las no ar, tentando, em vão, impedí-las de escapar.

Como tudo que é um dia deixa de ser, o cenário foi ficando cada vez mais distante, e a realidade dos dias que se seguem ganhando lugar. Despontava a ressaca-guerra: quando a lucidez senta diante de você e te faz encarar a notícia crua do que aconteceu, com a consciência pra por riso ou pesar no que se fez.
E por alguns instantes mais, você deseja voltar, seja pra fazer diferente ou pra puramente reviver a memória já distorcida, cujas impressões urgem - será? -  por serem melhor apreendidas.
Diante da impossibilidade óbvia do retorno, o pedido é outro: uma nova dose, mais uma vez.
É assim, uma só dose nunca é suficiente, embora ajude a matar a sede de ter tudo.

E nesse desfile de carnaval, segue o carro outorgado da abistinência.
Esse, todos sabemos, ninguém fica feliz ao ver passar; afinal, quem é que gosta da falta?
Nele o tema é a insacietude do tempo que não podemos reviver, e ele é colorido de figuras em preto-e-branco, que sambam na avenida da melancolia, marchando pungidamente pela ponta fina e metálica de saudade que não passa.
Os que acabam de entrar para esse bloco, como eu, deliram com o ruflar dos tambores.Aí tudo que era cor fica mais vívida na memória, tudo que era som eu recordava mais alto... Enfim, tudo que aquela lembrança ébria evocava eu tornava maior e mais forte, como se assim eu fosse capaz de capturar o momento da forma mais bela, e antes que ele se apagasse, eternizá-lo num quadro dentro de mim.

O Carnaval acabou, e com ele se foi o ritmo dos tambores. Desde então eu sigo descompassada, como um zumbi na avenida não mais iluminada, esperando por um norte que me guie.

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